Andrade Furtado

Advogado, poeta, professor, ensaísta e escritor brasileiro

Manoel Antônio de Andrade Furtado (Quixeramobim, 28 de janeiro de 1890, Fortaleza, 16 de abril de 1968), filho de José Furtado de Mendonça Bezerra de Menezes e Ana Stela Saraiva de Andrade, foi um advogado, poeta, teólogo, filósofo, professor, ensaísta, escritor, jornalista e fascista brasileiro.[1][2][3]

Andrade Furtado
Andrade Furtado
Nascimento 28 de janeiro de 1890
Quixeramobim
Morte 16 de abril de 1968
Fortaleza
Cidadania Brasil
Alma mater
Ocupação advogado, poeta, professor, escritor
Prêmios
Empregador(a) Universidade Federal do Ceará
Religião Católico

Sua família está ligada à criação de gado em Quixeramobim desde o século XIX. Seu avô paterno era o Capitão da Guarda Nacional Vasco Rogério Furtado de Mendonça e Menezes, e seu avô materno o arrecadador de impostos, vereador e presidente da Câmara Municipal de Quixeramobim Manuel Antônio de Andrade.[4]

Ao lado de Barão de Studart, de quem foi muito amigo, exerceu a vice-presidência da Sociedade de São Vicente de Paulo.[5]

Biografia

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Alfabetizou com suas tias Idalina Andrade e Maria do Patrocínio Furtado. Vindo para Fortaleza, ingressou no Liceu do Ceará, onde fez os chamados "preparatórios", e bacharelou-se pela antiga Faculdade de Direito do Ceará em 8 de dezembro de 1915, sendo o orador da sua turma. Ainda acadêmico, ensinou em muitos colégios, no Instituto de Humanidades, depois Colégio Nogueira, de Joaquim da Costa Nogueira; no Colégio Colombo, do Dr. Leiria de Andrade; no Instituto Miguel Borges, de Odorico Castelo Branco; e na Fênix Caixeiral.[5]

Casou-se duas vezes. Suas esposas foram suas primas Maria Alexandrina 'Lili' Castelo Branco, e Maria Dilara Bezerra de Menezes.[5]

Do primeiro matrimônio teve os filhos Maria Abigail, Maria Estela, professoras; e José Abner, sacerdote católico. Do segundo, houve: Maria Liara; Maria Noélia; Maria de Lourdes; Luís Edgard[6], importante jornalista da Organização Globo durante a Ditadura Empresarial-Militar; Paulo Abel e Gil Rubens, funcionários da Universidade Federal do Ceará; Margarida Maria, socióloga, e Manuel Antônio de Andrade Filho, bancário.

Dois anos após receber seu diploma, mediante concurso, retornou à Faculdade de Direito como professor de Economia Política, Finanças e Direito Administrativo, e como diretor. Também foi Professor da Faculdade de Filosofia e da Escola de Agronomia. Foi Vice-reitor da Universidade Federal do Ceará além de Juiz do Tribunal Regional Eleitoral em mais de uma ocasião.[7] Foi colega de departamento de Waldemar Falcão, que viria a tornar-se ministro de Getúlio Vargas em 1937.

Em 1932, tornou-se membro do Instituto do Ceará.[8]

Manteve boas relações com o Interventor Federal do Estado do Ceará Menezes Pimentel e ocupou interinamente o cargo cinco vezes, sendo elas: de 31 de outubro a 15 de dezembro de 1939; de 31 de outubro a 7 de dezembro de 1942; de 17 de janeiro a 17 de março de 1944; de 8 de janeiro a 16 de fevereiro e de 14 de junho a 25 de julho de 1945.

Também foi Secretário de Estado e membro e presidente da Academia Cearense de Letras (cadeira n° 26, patrono: Manoel Soares da Silva Bezerra).[9][10]

Direito

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Em 1 de janeiro de 1925, constituiu, juntamente com Antônio Ildefonso de Araújo e José Acúrcio Saraiva, a firma “Furtado, Saraiva & Cia.” Com o falecimento de Antônio Ildefonso de Araújo, passa a ocupar, a partir de fins de 1929, a presidência do Crédito Popular São José (Banco Popular de Fortaleza S/A, a partir do Estado Novo), da Arquidiocese de Fortaleza[5], do qual já era secretário desde sua instalação em 1920 e permaneceria no cargo de forma contínua até 1968.[8]

Jornalismo

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Dr. Andrade Furtado

Correio do Ceará

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Decano da imprensa cearense, iniciou-se em 1909 em O Bandeirante, que fundou juntamente com José de Mendonça Nogueira; Redator-secretário do Diário do Estado. Redator-chefe do Correio do Ceará.

O Nordeste

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Era um membro de destaque na Ação Católica fortalezense[11] e tinha relações próximas com o Arcebispo Dom Manuel da Silva Gomes, e a seu pedido deixa, em junho de 1922, o cargo de redator-chefe do Correio do Ceará para ocupar igual cargo no jornal católico O Nordeste, lançado no dia 29 daquele mês e ano.

Sob seu comando, o jornal O Nordeste tinha como linha editorial o combate ao liberalismo, ao laicismo, ao judaísmo, ao socialismo, e, partir da década de 1930, a defesa ao integralismo e ao nazismo.[2]

Durante a Era Vargas, o jornal buscava ser o organizador coletivo da sociedade civil fortalezense, através da formação das imagens de pânico moral que caracterizava a visão anticomunista; do apoio veemente do periódico à Revolução de 1930 e à ditadura do Estado Novo getulista; das orientações do órgão ao eleitorado católico, incluso o primordial voto feminino, tendo funções de partido político exercidas nas eleições de 1933 a 1936, e do clamor que fazia, independentemente da conjuntura, pela instalação urgente de um “Estado forte” no Brasil com Getúlio Vargas à frente.[2]

Em 27 de fevereiro de 1932, sob o título de "O pensamento da mocidade militar", publica na íntegra o discurso do Tenente João Carvalhedo, futuro comandante das Forças Integralistas, na posse da diretoria do Clube 3 de Outubro.

Considerava Plínio Salgado porta-voz dos anseios e das ideias novas da mocidade brasileira. Em 14 de março de 1932, publica a primeira nota política de Plínio Salgado, intitulada "Rumos à Ditadura".[12] Defendeu abertamente o integralismo e elogiou Adolf Hitler, Benito Mussolini, o general português Oscar Carmona, Primo de Rivera, da Espanha, o fascismo clerical de António de Oliveira Salazar, em Portugal e de Engelbert Dollfuss, na Áustria.[2]

O jornal criticava Adolf Hitler por este descrer da verdade católica ao "reproduzir o abecedário marxista" sobrepondo as carências materiais às necessidades espirituais e pela "divinização da raça", considerada uma prática bárbara e anticristã. Apesar disso, o jornal chegou a celebrar algumas ações nazistas, como a "perseguição implacável ao comunismo".[2]

No entanto, com o tempo, o periódico passou a criticar mais severamente o nazismo, especialmente após os desdobramentos do Congresso de Nuremberg em 1935 e a aliança nazi-comunista em 1939. O jornal destacava a vileza de Hitler e Alfred Rosenberg ao romperem a Concordata de 1933 e perseguirem implacavelmente os sacerdotes católicos.[2]

O Nordeste comparou as ações de Rosenberg com o neopaganismo, e a perseguição a clérigos católicos foi um ponto central na postura antinazista do jornal, comparando a situação de líderes católicos perseguidos na Alemanha com figuras históricas brasileiras que enfrentaram perseguições religiosas, como Dom Vital.[2]

Liga Eleitoral Católica

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O filósofo Andrade Furtado

Em 1932, funda e dirige com Ubirajara Índio do Ceará a seção local da Liga Eleitoral Católica (LEC), que diferente do resto do país, no Ceará ultrapassa a mera indicação de voto e obtém registro partidário próprio. Uma semana antes das eleições de 12 de outubro, a LEC, através de uma coligação de soldados veteranos da sedição de Juazeiro, conservadores, integralistas e latifundiários, lança a candidatura vitoriosa do professor de direito Francisco de Menezes Pimentel ao Governo do Estado.[13]

Em 1936, a LEC elege para Prefeito de Fortaleza Raimundo Alencar Araripe. Essa eleição foi a chave para a implementação da Ação Católica Brasileira na capital cearense.[5]

Como redator chefe do jornal católico de Fortaleza, O Nordeste, utilizou a imprensa para defender a LEC, e mobilizar da campanha dos católicos. Divulgou amplamente as chapas inscritas e publicou artigos, telegramas e comunicados que estavam relacionados aos políticos da Liga.[3]

Foi Presidente, Secretário-Geral e Orador do Círculo Operário de Fortaleza.[5]

Faleceu na sua residência, na Praça do Colégio Militar, em Fortaleza, em 16 de abril de 1968.[14]

  • Discurso (oração oficial da turma de bacharelandos (1915);
  • Liberdade Econômica e Instrução Pública (tese, 1917);
  • O Nacionalismo e a Imprensa (1918);
  • A Solução do Magno Problema do Ceará (1925);
  • A Catedral (1942);
  • A Extensão do Direito (1950);
  • Ensino Jurídico (1954);
  • Esboços e Perfis (1957).
  • Elogio Fúnebre de S. S. o Papa Pio X;
  • A reabilitação da mulher pelo Cristianismo;
  • O ensino jurídico;
  • O ensino religioso;
  • O País de Amanhã;
  • A fundação da Faculdade de Direito;
  • O centenário de Ozanam;
  • Para que o mundo pense;
  • O Papa — Defensor do Direito Internacional;
  • A Filosofia do Desastre;
  • O jubileu da Academia.

Artigos na Revista do Instituto do Ceará

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  • "O Culto do Santíssimo Sacramento na vida colonial da Terra de Santa Cruz" (1934),
  • "O IV Centenário de Anchieta" (1935),
  • "Tricentenário de Nassau" (1936),
  • "Liberdade de Cáthedra" (1937),
  • "Pior que a imoralidade" (1939),
  • "O IV Centenário da Companhia de Jesus" (1940),
  • "Cearense-padrão" (1941),
  • "A Catedral" (1942),
  • "Legenda de Glória" (1943),
  • "Recepção aos Novos Sócios - Dom Antônio de Almeida Lustosa" (1944),
  • "O Papa - defensor do Direito Internacional" (1945),
  • "O Centenário da Princesa Isabel" (1946),
  • "O Centenário de Carlos de Laet" (1947),
  • "O Centenário de Joaquim Nabuco" (1949),
  • "Para que o mundo pense" (1950),
  • "O Centenário de Justiniano de Serpa" (1952),
  • "Quixeramobim e sua vida religiosa" (1955),
  • "Jubileu literário" (1956),
  • "à sombra da Cruz" (1957),
  • "Perenidade da Glória" (1961),
  • "O Centenário de Dom Quintino" (1963),
  • "O Padre Guilherme Vassen - discípulo fiel" (1964),
  • "Jardineiro e Pastor" (1965),
  • "Didata e beletrista" (1966),
  • "Efeméride Memorável" (1967),
  • "Marcha do Centenário" (1972),
  • "Terra da Luz" (1984).

Homenagens

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  • Patrono da Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes,[15]
  • Uma rua em Fortaleza que liga a Aldeota ao Cocó foi nomeada em sua homenagem.[16]

Referências

  1. «Manuel Antônio de ANDRADE FURTADO». portal.ceara.pro.br (em inglês). Consultado em 23 de agosto de 2018 
  2. a b c d e f g Pinto, J.A.M. (2012). «Brasil soviético?! Nunca: anticomunismo e Estado autoritário no jornal católico "O Nordeste" (Fortaleza/CE, 1930 – 1945)». Universidade Estadual Paulista (UNESP). Tese. Consultado em 10 de setembro de 2024 
  3. a b Lima, J.R. (2019). «"A LIGA ELEITORAL CATÓLICA É PARTIDO POLÍTICO?": A LEC E AS ELEIÇÕES NO CEARÁ (1933-1934).» (PDF). Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Tese. Consultado em 10 de setembro de 2024 
  4. Luiz Edgard de Andrade Furtado (1990). «Andrade Furtado - Raízes e origens» (PDF). Instituto do Ceará. Revista do Instituto do Ceará. 104. Consultado em 12 de setembro de 2024 
  5. a b c d e f Espíndola, Itamar (1982). «Andrade Furtado» (PDF). Instituto do Ceará. Revista do Instituto do Ceará. 96. Consultado em 11 de setembro de 2024 
  6. «CBG – Colégio Brasileiro de Genealogia: Luís Edgar de Andrade Furtado». www.cbg.org.br. Consultado em 23 de agosto de 2018 
  7. «Professor Manuel Antonio de Andrade Furtado - novo diretor da Faculdade de Direito do Ceará». 1951 
  8. a b Viana, C.N. (2012). «Os bancos criados pela Ação Social Católica no Ceará: o Crédito Popular São José, o Banco do Cariri e o Banco Popular de Sobral» (PDF). Instituto do Ceará. Revista do Instituto do Ceará. 126. Consultado em 10 de setembro de 2024 
  9. «Academia Cearense de Letras». www.academiacearensedeletras.org.br. Consultado em 23 de agosto de 2018 
  10. «Portal da História do Ceará». www.ceara.pro.br. Consultado em 23 de agosto de 2018 
  11. LIMA, J.R. (2016). «JORNAL CATÓLICO, O NORDESTE: Andrade Furtado e a trincheira da Ação Católica fortalezense (1935-1945)». Universidade Estadual do Ceará. Histórias e Culturas. 4 (8). Consultado em 10 de setembro de 2024 
  12. «MOTA, L. 1957. Datas e fatos para a história do Ceará. Revista do Instituto do Ceará.» (PDF) 
  13. Mota, A. (1989). História política do Ceará (1930-1945). Fortaleza: Stylus Comunicações. p. 116 
  14. Annaes. [S.l.]: Impr. Nacional. 1968 
  15. «Academia Quixeramobiense de Letras, Ciências e Artes empossa 28 membros - Revista Central». Revista Central. 18 de agosto de 2015 
  16. «Todos os CEPs do Brasil». ceps.io. Consultado em 23 de agosto de 2018 

Precedido por
Raimundo Girão
  7º Presidente da
Academia Cearense de Letras

1959 — 1960
Sucedido por
Renato Braga