"As florestas de Ystad não escondem monstros. Muito menos trolls." Mas a verdade é que algo se esconde nos bosques que rodeiam Ystad e é da responsabi"As florestas de Ystad não escondem monstros. Muito menos trolls." Mas a verdade é que algo se esconde nos bosques que rodeiam Ystad e é da responsabilidade da dupla Wallander descobrir a verdade.
Um homem reaparece após 24 anos. No dia seguinte, uma mulher desaparece.
O prólogo de "Before The Frost" baseia-se em factos verídicos.Dia 18 de Novembro de 1978, Jim Jones,um fanático religioso que fundou uma cidade chamada Jonestown em Guiana, incentivou os seus seguidores ao suicídio colectivo. É neste contexto que conhecemos a primeira personagem deste enredo.
Estamos no ano de 2001. Linda Carolina Wallander muda-se para o número de 10 de Mariagatan, onde vai viver com o seu pai até começar a trabalhar. A poucos dias de vestir o uniforme e trabalhar na mesma esquadra que o seu progenitor, Linda vê-se envolvida numa investigação com dimensões religiosas. Apesar de ser uma mera espectadora no caso liderado pelo pai, esta persistente mulher tenta desvendar a verdade por sua iniciativa própria. Motivada pelos laços de amizade que a une à desaparecida, toma decisões que nem sempre revelam ser as mais acertadas. Mas Kurt Wallander está sempre do seu lado, para a repreender ou felicitar, e Linda aprende com o melhor dos melhores.
Henning Mankell apresenta-nos devidamente e pela primeira vez, a filha do seu famoso e incomparável inspector Kurt Wallander. Esta obra é a primeira e única de uma trilogia cuja protagonista é tão teimosa e critica quanto o seu pai. Afinal, quem sai aos seus não degenera.
Tal como o seu pai também Kurt Wallander teve dificuldade em aceitar a decisão de Linda de ser policia. A relação de ambos sempre foi conflituosa e tumultuosa e neste livro as suas discussões vão ser acentuadas pelo facto de estarem na presença um do outro quase 24 horas por dia.
Pelos olhos de Linda, o leitor viaja pelos arredores de Ystad e visita locais já conhecidos. Apesar de ser a personagem principal, o papel de Kurt é fundamental para o enredo. Felizmente, o escritor sueco não optou por o colocar em segundo plano. Pai e filha trabalham juntos nesta investigação que à medida que avança adquire contornos cada vez mais assustadores.
Sendo a nossa protagonista uma bela mulher, "Before The Frost" oferece-nos uma ténue amostra do que pode ser um principio de um romance. Stefan Lindman é um novo reforço da esquadra que é apresentado a Linda, por Kurt, quando esta se encontra presa numa armadilha de raposas. Neste encontro peculiar, Linda simpatiza logo com o novo policia. Relativamente à vida amorosa, para os fãs de Kurt Wallander, devo avisar-vos que não se prevêem alterações. Solitário, como sempre, com Baiba Liepa ainda no pensamento, vive para o seu trabalho.
As personagens de Mankell são, como sempre e acima de tudo, humanas. Conhecemos uma mulher cuja profissão é traçar trilhos, uma economista empertigada, um jogador de xadrez que vive ao sabor do vento, um fanático que afirma representar Deus na terra, um norueguês mentalmente instável, uma prostituta ilegal russa e uma mãe que toca piano. Nenhuma personagem é secundárias e não existem pequenos papéis. Todas são importantes para a história. E é esta capacidade de Henning Mankell que me fascina e continuará a surpreender, por mais livros que leia escritos por ele.
Os acontecimentos do livro "Before The Frost" passam-se entre os livros "A Muralha Invisível" e "O Homem Inquieto"É de destacar as várias referências a investigações, personagens e acontecimentos de todos os livros anteriores da série do Kurt Wallander.
Na perspectiva de Linda, conhecemos outro lado de Kurt Wallander. Durante toda a narrativa Linda partilhas memórias da sua infância e adolescência, revivendo momentos bons e maus, em que os seus progenitores desempenham um papel importante.
Quanto ao desfecho não podia ser mais misterioso. Como seria de esperar de um livro que aborda uma temática religiosa, muitas perguntas são deixadas sem respostas. Para além de um thriller fascinante, somos levados a uma reflexão mais profunda sobre as crenças do ser humano.
Infelizmente sei que não vou ter a oportunidade de conhecer melhor esta jovem mulher que, apesar de não querer admitir, tem todos os traços característicos do seu pai. No final deste livro, Henning Mankell faz uma introdução à vida que espera a sua nova heroína, deixando o leitor em pulgas para o próximo caso. Tal como Kurt Wallander, também Linda não me desiludiu, muito pelo contrário, revelou-se uma surpresa muito agradável. Mas entendo e apoio a decisão do autor de não desenvolver esta personagem, após a morte da actriz que a representava na série televisiva. Afinal, um herói tão humano como Kurt Wallander só podia ser espelho do seu criador....more
"Muitos anos antes de Cristo havia na Grécia uma poeta, Arquimedes que dizia: 'enho uma grande arte: eu firo duramente aqueles que me ferem'. Mas a mi"Muitos anos antes de Cristo havia na Grécia uma poeta, Arquimedes que dizia: 'enho uma grande arte: eu firo duramente aqueles que me ferem'. Mas a minha arte é maior ainda: eu amo aqueles que me ama."
Uma cassete de conteúdo desconhecido desaparece. Duas falsas massagistas são estranguladas. E a letra P é a única marca do assassino. Podem haver muitas histórias numa cassete. Qual será a que esta tem gravada?
"A Grande Arte" é uma história policial que reúne todos os ingredientes deste género. Tem lugar num pequeno mundo de assassinos, traficantes, prostituras e homens de negócios duvidosos. Mandrake é um advogado criminal do Rio de Janeiro, cujo primeiro nome nunca nos é revelado. Juntamente com o seu sócio judeu Wexler gere uma espécie de escritório, onde recebe os seus clientes.
Vive com a sua gata, Elizabeth,que com o avançar da idade se tornou esquisita na alimentação. Também teve um lagarto, Diamante Negro, que só comia ovos, mas para sua grande infelicidade teve de o deixar. O nosso protagonista é um homem de muitos vicios, como é de esperar neste género literário: tabaco, alcoól e sexo são os três principais, não necessáriamente por esta ordem. Os confrontos fisicos estão também presentes no seu dia-a-dia, sejam eles de prazer ou violência. Frequentemente não são planeados.
Mandrake é cinico, amoral e vive ao sabor do vento.
O nosso herói, que a determinada altura se descreve como "sinistro e vingativo", é, curiosamento, um leitor assíduo."Gostava de ler livros mas não admirava os escritores, como não admirava os viticultores ou os fabricantes de charutos." Não viaja sem literatura. Esteja em trabalho ou lazer, não dispensa um bom livro. Aliás, até usa a leitura para curar a ressaca. Quero também destacar a sua personalidade obsessiva compulsiva: "Quando me interessava por um assunto minha curiosidade nunca era saciada." E, para terem noção até que ponto este homem é interessante, digo-vos que é hipocondríaco! Contudo, tem um bom coração: é bondoso, generoso e não gosta de fazer sofrer os outros.
Nesta obra, dividida em duas parte "Percor" e "Retrato de Família", Rubem Fonseca leva o leitor ao Rio de Janeiro, Pouso Alto, Corumbá, Puerto Suárez, Quijarro e à fronteira entre a Bolivia e o Brasil, de carro, táxi, comboio ou autocarro, observamos as viagens que Mandrake faz, sozinho ou acompanhado.
Mas esta não é apenas uma história sobre Mandrake. É uma história que nos conta as vidas das suas persoangens sejam elas mulheres, como Berta, uma ex namorada peituda que joga xadrez e Ada, a namorada actual com quer assentar (apesar das constantes traições); homens da justiça como Raul, um grande amigo e policia dos homicídios ou criminosos como Nariz de Ferro, um anão negro dono de uma boate chamada "Lesbos", Hermes, um ex-cliente que foi sargento do exército brasileiro, Camilo Fuentos, um marginal boliviano que odeia brasileiros e Mão Perfumada, um criminoso da pior espécie que domina a arte de manusear uma faca.
Os acontecimentos que marcam a vida de cada um não podiam ser mais variados. Uma viagem ao Brasil para casar com uma rapariga que serve ao balcão, a descoberta da homessexualidade do marido e a prostituição por detrás de um negócio de massagens são algumas das histórias que Mandrake ouve nas suas interacções com os outros.
O nosso protagonista é também o nosso narrador. A narração é feita na primeira pessoa quando os acontecimentos são presenciados por ele. Nas restantes situações, as quais sabe por terceiros, testemunhas ou documentos, a história é contada na terceira pessoa, sendo inseridos comentários pessoais de Mandrake, que faz questão de nos recordar da sua presença.
Inicialmente o ritmo da narrativa e a evolução fascinante do enredo contagiaram-me, mas o fio condutor perdeu a força na segunda parte do livro. De uma narrativa magnifica e viciante, o leitor vê-se capultado para um sem fim de documentos que contam a histórias de várias gerações da mesma familia.
Bem, para acabar em beleza, irei usar uma frase do Rubem Fonseca, ligeiramente alterada: "E nada mais digo, até porque nem me foi perguntado!"...more
Acreditem quer não é assim que começa este thriller misterioso que se desenrola na cidade de Edimburgo. Preparem-se porque "U"Não há mistério nenhum."
Acreditem quer não é assim que começa este thriller misterioso que se desenrola na cidade de Edimburgo. Preparem-se porque "Uma Questão de Sangue" é surpreendente até à última página.
"Sangue espalhado pelo chão e pelas paredes. Sangue por todo o lado. Sangue com histórias por contar." O Caso Port-Edgar tem inicio numa Terça-feira e termina após nove longos dias. Uma escola é o palco de um massacre. Um psicopata faz três vitimas e, em seguida, suicida-se. Um total de três mortos, o que nos deixa um sobrevivente. O nome do assassino é-nos revelado logo no primeiro parágrafo do livro. Então onde reside o mistério? perguntam-me vocês. É por isso que "Uma Questão de Sangue" é tão especial. É um romance sobre a amizade, a traição, a família e o passado onde nos vemos envolvidos na procura pelos motivos de um acto atroz e, aparentemente, inexplicável.
Esta é uma história sobre um inspector chamado John Rebus. Este elemento das forças policiais, ao lado da sua colega e, acima de tudo, amiga, Siobhan Clarke, esforça-se para aplacar o medo real e asfixiante da sociedade pelos actos criminosos. Portanto, como devem imaginar, ambos contribuem para o bem-estar dos cidadãos da Escócia, ao contrário dos jornalistas. E não me julguem! As minhas conclusões baseiam-se no relato das personagens deste enredo fascinante, ao qual imediatamente me afeiçoei. O sentimento pela nobre - será? - profissão de jornalista é comum nesta obra. Mas dizem eles, um da espécie pelo menos, que são o quarto poder. Mas quem lhes dá credibilidade?
Bobby Hogan, o responsável por esta investigação, pede ajuda ao nosso herói para encontrar respostas para o trágico acontecimento. Rebus, incapacitado fisicamente, arrasta consigo Siobhan para desempenhar as tarefas mais redundantes como conduzir, abrir uma porta ou acender um cigarro. Afinal de contas, o homem não pode usar as suas mãos. Pelo menos é esta a explicação que dá à sua chefe, Gill Templer, que o mantém constantemente debaixo de olho e não o deixa escapar às tão necessárias, segundo ela pensa, repreensões.
A determinada altura "Rebus teve um pensamento terrível: os loucos tinham-se apoderado do asilo, os verdadeiros funcionários eram agora seus prisioneiros, daí o semblante vivo e corado de Billy. Ou isso, ou então andou a mexer no armário dos medicamentos." Bem, a mim a segunda hipótese pareceu-me a mais plausível e julgo que irão concordar comigo durante a vossa experiência de leitura. E não é só o Billy que aparenta estar sob o efeito de estupefacientes. O humor deliciosamente contagiante das várias personagens torna-as igualmente suspeitas! Divertidas, sim, mas suspeitas de qualquer forma!
Os dois investigadores vêem o seu trabalho dificultado pelos repetitivos confrontos com um membro do parlamento escocês que foi detido numa rusga habitual a um antro de prostituição, com um duo infernal que trabalha para o exército e com um parasita que trabalha como jornalista e insiste obter informações em primeira mão.
"Ele não achava que fosse um vilão, mas também sabia que provavelmente não era um dos bonzinhos." Para mim, esta é a frase que melhor descreve John Rebus, ao mesmo tempo que nos oferece uma ante-visão da qualidade de todo o enredo. Ian Rankin criou um herói de carne e osso, um inspector com uma personalidade real e comportamento e atitudes verdadeiros. Com todos os seus defeitos e virtudes Rebus é um ser humano como todos nós. Longe de ser perfeito, o inspector esconde os seus segredos mais obscuros. Não o fazemos todos? A normalidade desta narrativa, uma condição aparentemente simples de conferir ao enredo, proporciona-nos uma linha de investigação e mistério que poderiam, sem dúvida alguma, desenrolar-se no mundo real.
Se ficarem com vontade de ler este thriller impressionantemente bem escrito pelo escritor escocês Ian Rankin, não me culpem. Usando as palavras do autor, proferidas por uma das suas magnificamente bem delineadas personagens "só vos posso pedir desculpa e usar em minha defesa o facto de ser de carne e osso."...more
"(...) era sobre uma aldeia cheia de gente pobre que era explorada por um senhor feudal. Mostrava um rapazinho a atirar uma pedra à mansão do zamindor"(...) era sobre uma aldeia cheia de gente pobre que era explorada por um senhor feudal. Mostrava um rapazinho a atirar uma pedra à mansão do zamindor (senhor feudal), partindo uma janela. (...) As grandes revoluções começam com uma pequena faísca."
A introdução do livro "Seis Suspeitos" é provocadoramente deliciosa. O livro apresenta-nos sete personagens principais, ainda que uma delas permaneça nos bastidores e seja apenas retratada através do relacionamento, contacto e experiências com as restantes. Estas sete personalidades não podiam ter uma educação e valores mais diferente e, no entanto, sou incapaz de escolher a que mais me atrai. Todas elas são amorais, tantos os seis suspeitos como a própria vitima, todas possuem traços obscuros e duvidosos. E aqui reside todo o seu encanto. Durante as quatrocentas e oitenta e seis páginas senti-me mais do que deslumbrada, fui hipnotizada pela escrita mágica de Vikas Swarup. Se pensarmos bem, o que é que a inocência, a pureza e a honestidade têm de tão aliciante? Tais conceitos não são adequados para títulos de jornal. A provocação reside nos seus opostos. Todos os comportamentos, pensamentos e atitudes dos implicados neste enredo poderoso me seduziram: o temperamento complexo e imprevisível do burocrata, o poder e influência quase sem limites do politico, a ingenuidade e estupidez do americano, a curiosidade e admiração pelo brilho da civilização do indígena, a autoconfiança e sensatez da actriz de Bollywood e a vivacidade contagiante do ladrão. Ao abrir o livro o leitor empreende numa viagem memorável a um país distante, Somos confrontados com a cultura, os costumes, o povo e as realidades tão distantes que coexistem na Índia. Vikas Swarup não se coíbe de expor a corrupção, a pobreza, a crueldade e a violência presentes no dia-a-dia de muitos indianos. Por outro lado, aponta a honestidade, a justiça, a riqueza e o sentimento caloroso provocado por esta sociedade tão diferente da nossa. Senti-me verdadeiramente como uma parte deste vasto mundo, que apesar de todos as suas imperfeições, é magnífico. Foi nas páginas deste livro que procurei e encontrei o conforto desta sensação de familiaridade nos últimos dias. Foi a sua história comovente e marcante que me submeteu a horas de leitura que, infelizmente, me pareceram demasiado breves. A estrutura da narrativa é perspicaz e extremamente tentadora. Este livro começa por nos reportar um crime. E é apenas isto que a obra tem em comum como os outros romances do seu género. São-nos apresentados seis suspeitos e seis motivos. Seis pessoas, seis estilos de vida e inúmeras ligações. É traçado o perfil de um vítima e as consequências dos seus actos. Segue-se a exposição das provas e dos factos, as deduções e a solução e, por fim, a confissão. As ligações entre as personagens, que têm vidas tão contrastantes, são assustadoramente brilhantes. O que pode ligar uma das mais famosas estrelas de Bollywood a um operador de empilhadoras do Walmart? Bem, a resposta e esta questão reside neste livro. Os diálogos são soberbos e ajudam-nos a ter um conhecimento e uma visão aprofundada das personagens. Seja na primeira ou terceira pessoa, através de cartas, telefonemas, gravações, excertos de artigos jornalísticos ou noticiários televisivos, a narrativa não podia ser exposta de uma forma melhor. As palavras fluem na nossa mente com uma naturalidade desconcertante, envolvendo-nos no seu mundo que, apesar de ser cenário da ficção, não deixa de ser real. Os vários termos indianos presentes ao longo da história e as inúmeras referências à cultura do país foram dois fortes impulsionadores do meu entusiasmos, que já se encontrava no seu auge após a leitura da primeira página. Correcção: do primeiro parágrafo. Mais do que um retrato da sociedade indiana, este livro é uma fonte preciosa de conhecimento sobre a natureza humana.
"Durante quanto tempo somos capazes de assisti ao que se passa à nossa volta sem nos deixarmos afectar?"
Um final inesquecível. Um livro memorável. Um autor incomparável....more
"Quantas promessas pode uma pessoa quebrar antes de deixares de a perdoar?"
"Ferrugem Americana" é o primeiro romance de Philipp Meyer e a sua história"Quantas promessas pode uma pessoa quebrar antes de deixares de a perdoar?"
"Ferrugem Americana" é o primeiro romance de Philipp Meyer e a sua história tem lugar numa pequena cidade da Pensilvânia. Outrora o coração da indústria do aço, Buell tornou-se numa cidade em ruínas. Antigamente fervilhava de vida, mas hoje só tem para oferecer desemprego e pobreza aos seus habitantes. A atmosfera sufocante aliada ao desespero há muito enraizado nas personagens torna o ambiente sombrio e a tensão é palpável.
Philipp Meyer conta-nos a sua história intercalando os diferentes pontos de vista das personagens. Desta forma, não só cria uma narrativa poderosa com múltiplas perspectivas, como também proporciona ao leitor um conhecimento aprofundado dos pensamentos e sentimentos de quem está a narrar. A fluidez impressionante da narrativa é fruto das diferentes vozes que lhe dão vida. Estas variam de um tom intenso e ponderado, a um ritmo acelerado preenchido por inúmeros pensamentos, a divagações e reflexões carregadas de desilusão ou uma coragem contagiante.
Esta é uma história sobre pessoas. É uma história sobre a vida que nos mostra como personalidades,mentalidades e estilos de vida tão diferentes podem estar ligadas. As personagens de Meyer são essencialmente e, acima de tudo, humanas. Os defeitos são destacados acima das virtudes e os seus problemas e questões existenciais têm um carácter assustadoramente real. O escritor americano escreve uma forma clara e objectiva, sem embelezar a realidade obscura que rodeia o seu enredo.
A amizade e a lealdade, o amor e a traição, a família e as obrigações, o sonho e a desilusão, a incompreensão e o isolamento, o medo, o desejo e a coragem. Acima de tudo "Ferrugem Americana" retrata o coração e a mente humana. Afinal de contas, todos procuramos o mesmo.
Durante a leitura vi um pouco de mim própria em cada uma das personagens. Não concordo com todas as suas crenças, não compreendo todos os seus comportamentos, não acredito em todos os seus sentimentos, não aprovo todas as suas atitude. E isto é o que as torna tão próximas de mim como qualquer outra pessoa do mundo onde vivo.
Os sentimentos e pensamentos das personagens são acompanhados pelo ambiente que os envolve. O tempo que se faz no período narrado age em sintonia com as suas personagens. A sintonia entre o Homem e a natureza é surpreendente.
"Ferrugem Americana" mostra-nos a insensatez provocada pela inexperiência da juventude, a incapacidade de adaptação daqueles que se destacam dos restantes, as escolhas feitas a pensar nos outros em vez de nós próprios, a justiça feita pela mão do Homem e não do sistema em que vive, o amor incondicional e complexo, o que diferencia uma mãe, de uma esposa e de uma mulher independente, a complexidade do amor, os laços da amizade pura e, acima de tudo isto, o controlo que cada um possui sobre a sua vida. Apesar de todos serem vitimas das circunstâncias,ninguém é livre de culpa.
Uma mente dotada de um intelecto sem igual e uma capacidade física invejável são promessas de um futuro brilhante . Duas promessas quebradas num país que age com indiferença.
O leitor vê-se nas estradas que o levam para fora de Buell, num parque de caravanas, numa prisão de segurança máxima e numa esquadra da policia. Conhece o interior de fábricas e observa as paisagens dominadas pelos destroços de uma cidade que já nada tem para oferecer, mas cujos cidadãos teimam em não abandonar
Philipp Meyer é um autor que conjuga a personalidade, as circunstâncias e o cenário numa tragédia caracterizada pela acções humanas....more
"E é tudo. A história de Kurt Wallander termina irrevogavelmente. Os anos de vida que ainda lhe restam, talvez dez, talvez alguns mais pertencem-lhe, "E é tudo. A história de Kurt Wallander termina irrevogavelmente. Os anos de vida que ainda lhe restam, talvez dez, talvez alguns mais pertencem-lhe, a ele e a Linda, a ele e a Klara. A mais ninguém."
É com estas palavras que termina "Um Homem Inquieto", o 11 º livro que leio do autor sueco Henning Mankell. Foi com um prazer enorme, e alguma tristeza também, que li o último livro da série do incomparável policia de Ystad, Kurt Wallander.
Henning Mankell é, para mim, o melhor escritor, ponto final.
Como tal, não irei fazer um comentário como os outros. Nada do que eu possa dizer sobre este autor poderá igualar a qualidade e genialidade da sua escrita. Por isso, nada melhor do que as suas próprias palavras para comprovar a pessoa magnifica que se encontra por detrás desta história. Uma história sobre politica, submarinos e espiões. Uma história sobre as pessoas, a vida e a morte. Uma história de Henning Mankell.
Aqui ficam algumas das passagens que mais me marcaram.
"Como numa boa peça de teatro para criar mais tensão, o protagonista não deve estar sempre em cena; a intriga só tem a ganhar se algumas cenas se desenrolarem nos bastidores." Hakan Von Enke
"Não queria só imitar os peixes, mas também os pássaros." Kurt Wallander
"Ou seria a barafunda natural e a ordem o desvio?" Kurt Wallander
"Há pessoas que vão deixando pistas falsas delas próprias.A abertura e a acessibilidade são uma espécie de cadeado invisível com que encerram uma realidade de que não têm o menor desejo de colocar a descoberto." Kurt Wallander
"Vivemos a vida com um fundo duplo, provavelmente para não nos afundarmos se um deles se abrir debaixo dos nossos pés." Kurt Wallander
"Ela vive num mundo em que pouco ou nada muda, a não ser o envelhecimento, esse movimento invisível que todos sofremos." Mulher de voz melodiosa e sotaque estrangeiro.
"Foi ai que tudo começou. Começou com um homem inquieto." Kurt Wallander
"A história não é só o que deixamos para trás, mas é também algo que nos vai acompanhando ao longo da vida." Kurt Wallander
"Pensamos que as pessoas desaparecem para sempre, até que um dia acordamos e compreendemos que nunca é tarde demais.As pessoas que significam alguma coisa para nós nunca saem completamente da nossa vida." Baiba Liepa
"E a pergunta, a mais difícil de todas, é o que restará de tudo isto." Kurt Wallander
"E brindarei porque, apesar de tudo, tive a oportunidade de viver a aventura maravilhosa de nascer, viver e um dia voltar para as sombras." Baiba Liepa
"É que nunca devemos julgar que sabemos muito sobre os pensamentos e as intenções dos outros." Kurt Wallander
"E falar-lhe-ei do dia em que decidi mudar o mundo, mesmo que tenha sido apenas por gravar as minhas iniciais num muro de pedra." Kurt Wallander
"Felizmente as nossas memórias não nos transparecem na cara." Kurt Wallander
"Não há nada que possamos tomar por certo." Kurt Wallander
"Neste mundo as explicações simples não existem e a verdade pode muito bem ser o contrário daquilo que acreditamos." Kurt Wallander...more
"Não podemos prever o tempo que fará amanhã correctamente se tivermos noções erradas sobre o tempo que faz neste instante." É com base nesta afirmação"Não podemos prever o tempo que fará amanhã correctamente se tivermos noções erradas sobre o tempo que faz neste instante." É com base nesta afirmação que Leo justifica o inexplicável e incompreensível desaparecimento da sua mulher.
Tudo começou num mês de Dezembro, quando uma mulher rigorosamente igual à esposa, entrou no apartamento de Leo. Era tudo igual mas ela não era Rema. Normalmente, quando uma pessoa de quem gostamos desaparece, dirigir-mo-nos à policia. Mas Leo Liebenstein não tem um problema dito normal e, portanto, a solução não pode ser tão vulgar como reportar o seu desaparecimento. Leo Liebstein é um psiquiatra nova-iorquino (e não um psicanalista!) de 51 anos que decide recorrer à meteorologia para procurar a sua mulher desaparecida. A dupla, o simulacro, a impostora que veio para a substituir não conseguiu convencer o nosso protagonista nem por um segundo. Foi o galgo em miniatura, uma cadela orfã avermelhada e sem nome, que denunciou a falsa Rema. A verdadeira Rema sentia indiferença pelos cães.
Mais do que uma mulher, Leo eleva Rema a um nível transcendente, que supera o simples conceito de ser humano. A verdadeira Rema, a única pessoa que ama, "cheira a erva cortada e a pão e a limão". Gosta de nozes-pecãs, lentilhas, desenhos com chá, jornais estrangeiros e de beijar nas pálpebras. E é a ausência destes pequenos, mas importantes, detalhes que desmascaram o simulacro.
Quanto a Leo Liebstein é um homem simples: lava as mãos em água quente para se acalmar, tem sérias dificuldades em escutar os outros (o que o permite compreender e captar as mensagens subliminares) e é incapaz de mentir, seja em relação ao que for.
Entre as restantes personagens são de destacar: Harvey, um paciente de Leo que acredita que tem capacidades especiais que lhe permitem controlar o tempo; Tzvi Gal - Chen, um meteorologista já falecido; Magda, a mãe fria e distante da verdadeira Rema; o enfermeiro nocturno, que apesar de não desempenhar qualquer papel nesta história, está constantemente presente na mente de Leo; Lola, a telefonista da Real Academia de Meteorologia que tem uma voz muito atraente; o psicanalista espanhol que passeia cães; a empregada do café que tem a cintura igual à de Rema; a ajudante de biblioteca que lembra a Leo um feto e o misterioso Anatole.
Esta obra envolve o leitor numa perseguição alucinante que inclui agentes secretos, intrigas, traições e uma inexplicável presença de cães, que podem ou não ser fundamentais para a resolução de todo o enigma. Durante a sua busca pela verdadeira Rema, Leo viaja por Nova Iorque, Buenos Aires e Patagónia. Este romance baseia-se, principalmente, na falta de comunicação, no estado atmosférico e como ambos se relacionam com o desaparecimento de uma mulher, que ao ser levada, foi substituída por uma dupla.
O nosso protagonista é o narrador da sua própria história. É um homem muito sensível, que tem uma mente extremamente analítica. Ele sabe que as suas acções o fazem parecer irracional, mas a verdade é que Ricka Galchen nunca dá a entender directamente ao leitor qual a verdadeira realidade da dimensão onde se desenrola o seu peculiar enredo. Esta obra tem também um tom de humor que se reflecte na estranheza dos pensamentos do psiquiatra e na forma inadvertidamente cómica como ele os articula à medida que nos descreve os acontecimentos que o envolvem e as pessoas com que se relaciona.
Relativamente ao desfecho, confesso que esperava um maior número de respostas para um ainda maior número de perguntas. Contudo, tendo em conta o conteúdo deste livro que exige ao leitor uma grande reflexão, mais do que uma simples leitura, considero o final adequado, ainda que não do meu agrado. "Pressões Atmosféricas" é o primeiro romance da escritora canadiana Rivka Galchen. É um livro de leitura fácil, dividido em vários capítulos com títulos sugestivos e explicativos (pormenor que me agrada bastante). Apesar de não ter sido uma das minhas leituras preferidas, foi, sem dúvida alguma, uma experiência diferente....more
"Os Diários Secretos" é o quinto livro da série sueca de sucesso do Patrik Hedström, da autora Camilla Läckberg. A escritora de romances policiais tra"Os Diários Secretos" é o quinto livro da série sueca de sucesso do Patrik Hedström, da autora Camilla Läckberg. A escritora de romances policiais transporta-nos, mais uma vez, à localidade de Fjällbacka e às suas personagens, a quem já nos afeiçoamos: o casal Erika Falk e Patrik Hedstrom e a sua filha Maja; Bertil Mellberg com a sua personalidade peculiar; Gösta Flygare e sua eterna paixão pelo golfe; Annika Jansson e sua paciência infinita, como secretária de Mellberg; Martin Molin e o seu desejo de se tornar tão bom como Patrik.
Neste livro, como muitos pais suecos, o detective Patrik Hedstrom decide tirar licença de paternidade para ficar em casa a tomar conta de Maja, que fez um ano. Assim, Erika, que é agora sua mulher, pode voltar ao trabalho e escrever o seu novo livro. Esta nova situação não é fácil para nenhum dos dois e ambos tentam adaptar-se à nova rotina, ao mesmo tempo que tentam resolver um mistério relacionado com Elsy, a mãe de Erika.
Os diários azuis, a medalha Nazi, a camisa de bebé manchada de sangue e o assassínio de um especialista na história da Segunda Guerra Mundial dão origem a esta história, que nos leva a uma viagem pelo passado. Nesta viagem somos confrontados com a Suécia em tempo de guerra e as histórias de amizade, amor e traição vividas por um pequeno grupo de amigos. As ligações por eles criadas não resistiram ao passar do tempo, mas o seu segredo permaneceu nas trevas do silêncio até agora. Passaram-se 60 anos e a verdade virá ao de cima. E, como não podia deixar de ser, Patrik deixa-se envolver e aproveita todas as oportunidades para participar na resolução da investigação.
A narrativa alterna entre os acontecimentos que tiveram lugar entre os anos 1943 e 1945 e a a investigação do presente. Esta obra tem um equilíbrio perfeito. A escrita inteligente da Camilla Läckberg é simples: a autora vai sempre directa ao assunto que tem em mãos, não perde tempo com descrições alongadas e aborrecidas. Estas características aliadas à originalidade e excelente qualidade do enredo tornam muito fácil virar as páginas, umas atrás das outras, fazendo o leitor perder a noção do espaço e do tempo.
As histórias e personagens secundárias são tão intrigantes e envolventes como o fio condutor principal. O que mais me fascinou nesta obra foi a combinação entre o desenvolvimento da investigação e os detalhes da vida familiar e relações entre as personagens. Em "Os Diários Secretos" conhecemos de uma forma mais intima cada uma das personagens que temos vindo acompanhar desde "A Princesa do Gelo".
A homossexualidade, a demência, o alcoolismo, as relações complexas entre pais e filhos, o racismo e a distinção entre o bem e o mal são alguns do temas abordados pela autora.
Apesar de não ser o meu preferido da série do Patrik Hedstrom, apreciei muito a leitura desta obra e a Camilla Läckberg continua a fazer parte dos meus autores preferidos. Fico ansiosa que o próximo livro seja publicado para satisfazer a minha curiosidade relativamente ao desenvolvimento da vida das personagens, que cada vez mais me parecem pessoas reais.
"Vivia sozinho naquela ilha há doze anos. Agora era como se a ilha tivesse sido invadida por três mulheres."
Fredrik Welin tem 66 anos e é o único habi"Vivia sozinho naquela ilha há doze anos. Agora era como se a ilha tivesse sido invadida por três mulheres."
Fredrik Welin tem 66 anos e é o único habitante de uma ilha do Báltico. Há 12 anos que vive isolado da sociedade, tendo como companhia o seu cão, a sua gata e uma comunidade de formigas que se apoderaram de um cantinho na sua sala de estar. O único contacto humano que tem é com o carteiro, Jansson, a quem proibiu de trazer publicidade. O antigo cirurgião não gosta muito do homem, mas é ele o seu melhor amigo e o único paciente que lhe resta - para mal dos seus pecados, um paciente hipocondríaco. Todos os dias, Welin abre um buraco no gelo, perto do pontão, e mergulha na água insuportavelmente gelada. Este ritual foi a forma que arranjou para se sentir vivo. Mantém, igualmente, um diário onde escreve coisas desprovidas de importância, como anotações sobre o tempo e observações relativas às aves migratórias.
Um dia, vê uma figura a aproximar-se, com dificuldade, da sua casa. "Quem será? O que procura?". À medida que estas questões se apoderam dele, Welin observa o vulto com os binóculos e apercebe-se que a mulher que se encontra perante si, é a mulher que abandonou há 30 anos atrás, Harriet. Neste livro,tanto história da vida da personagem principal,como os traços da sua personalidade, são revelados lentamente. Gradualmente, o leitor depara-se com os acontecimentos passados que explicam as atitudes e acções do presente. O nosso passado define-nos. Não importa qual o caminho que escolhemos, ele estará sempre um passo atrás de nós e, mais cedo ou mais tarde, irá voltar e caminhar ao nosso lado.
Um livro com muito mistério que nos faz reflectir sobre a vida e a morte. Nesta obra, narrada por Fredrik Welin, estão presentes temas como o isolamento, a solidão, o amor, a perda e a redenção Henning Mankell é conhecido como um autor de policiais, contudo, no livro "Sapatos Italianos" não há lugar para crimes, nem violência. Mankell transporta-nos para outra realidade, além do crime e do mistério, conduz-nos até à alma de um único homem. Esta viagem aos confins do coração de Fredrik Welin faz-nos reflectir sobre o nosso papel neste mundo e a importância de partilharmos o nosso dia-a-dia com aqueles que nos são mais próximos.
Fredrik Welin parte numa viagem de auto-descoberta, durante a qual conhece outras pessoas (e animais) com qualidades que o autor Henning Mankell tanto aprecia. Uma comunidade de músicos estranhos, uma activista que vive numa caravana, um sapateiro que faz dois pares de sapatos por ano, uma mulher que acolhe raparigas em fuga, uma adolescente refugiada traumatizada, uma cadela que procura ajuda para a dona que morreu são algumas das personagens que o leitor tem o prazer de conhecer neste romance. Os cenários não podiam ser mais apropriados para o enredo.Por um lado uma ilha com sete habitantes, incluindo o carteiro, por outro uma densa floresta, onde os segredos se escondem.
Mais uma obra-prima do meu autor preferido, Henning Mankell.Foi com alguma tristeza que li a última página, pois são poucos os livros que me afectam da mesma forma que as obras deste escritor sueco.
"Todas as portas que tinha dentro de mim batiam ao vento, que parecia cada vez mais forte."...more
Em primeiro lugar quero dizer que quem não gosta da ideia de ser manipulado por um escritor não deve, definitivamente, ler o livro "Caçadores de CabeçEm primeiro lugar quero dizer que quem não gosta da ideia de ser manipulado por um escritor não deve, definitivamente, ler o livro "Caçadores de Cabeças". Jo Nesbo faz com que todos nós, incluindo os leitores mais experientes, nos apaixonemos pelo seu protagonista. Protagonista este dotado de um sentido de moral completamente invulgar para o mais comum dos mortais, tornando-se mesmo, em algumas ocasiões, merecedor de desprezo.
Roger Brown é um caçador de cabeças de sucesso. Apesar de ter 1 metro e 68 centímetros - considerada uma estatura baixa para um homem norueguês - tem plena confiança em si mesmo e nas suas capacidades. É terrivelmente inteligente, perigosamente sedutor e extremamente calculista. Aquilo que mais ama e estima na sua vida, depois da sua mulher, é o seu cabelo. Posso dizer que possui uma auto-estima que se aproxima do limite máximo imaginável.
Jo Nesbo apresenta-nos um protagonista amoral que tem tudo o que alguém pode desejar: um emprego mais do que bem remunerado, uma mulher lindíssima que tem muito mais que apenas aparência, uma galeria de arte frequentada por pessoas pertencentes a elite - a nata da sociedade - e uma mansão de luxo, cujos custos estão muito aquém das suas possibilidades financeiras. Roger Brown revela-nos, desde a primeira frase do livro, a sua faceta mais desagradável e manipuladora. É uma figura imponente e todos os que o rodeiam o respeitam pela sua grandiosidade e influência.
Jo Nesbo não criou uma personagem principal para agradar ao leitor. Roger Brown não pode ser descrito como uma pessoa comum e, definitivamente, não tem atitudes dignas de admiração ou respeito. Contudo posso-vos dizer que, até à última página, torci por ele e pelos seus objectivos.
A obra "Caçadores de Cabeças" retrata uma história fascinante, original e digna de toda a nossa atenção. O enredo é composto por três personagens principais, todas elas realistas, perturbadoras e emocionalmente interessantes. Entre elas destaca-se o nosso protagonista, Roger Brown, o narrador dos acontecimentos, que há medida que o livro avança, se vão tornando cada vez mais incríveis. Com um acesso ilimitado e privilegiado aos pensamentos do caçador de cabeças, vemos a sua vida perfeita a caminhar para o caos.
Jo Nesbo possui um sentido de humor perspicaz e conhece verdadeiramente a natureza humana, como podemos verificar ao longo deste thriller. Apesar de não ser uma apreciadora de arte assídua, nem de ter conhecimentos aprofundados sobre o assunto, gostei das referências a quadros e artistas famosos ao longo do livro (sobre os quais o tradutor deu mais detalhes em nota de rodapé).
Um aspecto que me fascinou foi um modelo de técnicas de interrogatório que nos é explicado desde o inicio e mencionado várias vezes durante toda a obra: o modelo, de nove passos, de Inbau, Reid e Buckley. Após a leitura do livro fiquei a saber que este modelo existe na realidade. Roger Brown domina estas técnicas na perfeição e, não querendo revelar muito sobre o livro, vou apenas dizer que são mais do que eficazes e revelam-se extremamente úteis nas situações mais variadas.
O fabuloso escritor norueguês leva o seu tempo a descrever as personagens, a situação e o todo o meio que os envolve. Dando-nos um falso sentimento de segurança, Jo Nesbo, prepara o terreno onde irá ter lugar a verdadeira acção. O livro cativou-me desde a primeira linha. A história tem um bom ritmo, que acelera à medida que viramos as páginas. Foi este ritmo que me prendeu de tal forma, que dei por mim acabar a leitura após dois dias. ...more
"Primeira a Morrer" é o primeiro livro da série "O Clube das Investigadoras" do James Patterson. Este thriller apresenta-nos a inspectora de homicídio"Primeira a Morrer" é o primeiro livro da série "O Clube das Investigadoras" do James Patterson. Este thriller apresenta-nos a inspectora de homicídios, Lindsay Boxer e segue, detalhadamente, a sua vida pessoal e profissional. A presente investigação foca-se na procura de um assassino em série de recém-casados.
Tive alguma dificuldade em relacionar-me com a protagonista. Apesar de o autor fazer uma descrição pormenorizada, sinto que, por vezes, o comportamento da mulher retratada é teatral, isto é, encenado. Não consigo imaginá-la como uma pessoa de verdade, no mundo real e este facto não me permitiu envolver e estabelecer uma ligação com o livro.
Para além de Lindsay existem mais três membros no "Clube das Investigadoras": Claire, Cindy e Jill. Cada uma delas representa uma entidade diferente. O clube conta com uma investigadora, uma médica legista, uma jornalista e uma procuradora. A constituição do grupo promete uma junção de personalidades e vidas diferentes, contudo tal não é proporcionado ao leitor. James Patterson não desenvolve, neste primeiro livro, os pormenores relativos a cada uma das mulheres. Supostamente, estas três personagens desempenham um papel importante na vida de Linsay e, acima de tudo, têm um influência enorme na resolução do crime em questão. Contudo, as suas histórias e pensamentos são regalados para segundo plano.
Apesar de o livro ser produto de uma mente masculina, senti que o autor tenta provar que as mulheres são capazes de resolver um mistério, sem a ajuda de um homem. Apesar disso e, como não podia deixar de ser, o sexo masculino é um tema debatido pelas quatro amigas.
Inicialmente, esta obra cativou-me bastante. Contudo, à medida que a história avançou e determinados detalhes me foram desvendados, senti a desilusão apoderar-se de mim. Os acontecimentos revelaram-se previsíveis, os diálogos cansativos e o desfecho decepcionante.
Apesar de terem sido poucas as surpresas do enredo e o fio condutor principal se revelar simples e pouco criativo foi uma leitura interessante. É um bom livro para quem deseja ler algo leve, que não exiga concentração ou especial atenção. Uma boa forma de descontrair ou fazer uma pausa em leituras mais exigentes.
É sempre difícil para mim gostar verdadeiramente de um livro cujas personagens mantêm uma distância considerável do meu mundo. Contudo, como está divido em muitos capítulos e a escrita é bastante simples, o ritmo é muito rápido e o livro lê-se num instante.
Do James Patterson apenas ainda tinha lido "A Noiva Assassina" e esse vale a pena o investimento....more
O autor Richard Montanari estreia-se em Portugal com o livro "As Raparigas do Rosário". No entanto, o escritor de thrillers e policiais, argumentos e O autor Richard Montanari estreia-se em Portugal com o livro "As Raparigas do Rosário". No entanto, o escritor de thrillers e policiais, argumentos e inúmeros ensaios para publicações de renome, publicou a sua primeira obra "Deviant Way" em 1995 (infelizmente sem tradução em Português). "As Raparigas do Rosário" é um romance fascinante que destaca o lado sórdido e obscuro da alma humana. A obra dá inicio a uma série cujos protagonistas são os detectives Kevin Byrne e Jessica Balzano, detectives da Brigada de Homicídios de Filadélfia. A narrativa do livro "As Raparigas do Rosário" alterna entre a linha de investigação da brigada de homicídios e os pensamentos e acções de outras personagens, que desempenham um papel relevante no enredo. O leitor tem um acesso privilegiado, apesar de limitado, aos sentimentos íntimos e mente do perpetuador dos crimes que estão no centro da obra. A história é narrada nos contextos dos inspectores responsáveis pela investigação, da imprensa - de um jornalista em particular - e da vida dos envolventes principais, incluindo o próprio assassino. O detalhe e qualidade das descrições permitem uma visualização quase palpável do que está a ser narrado. Senti-me como parte do enredo, como se vivesse na mesma realidade, em vez de ser uma simples observadora, alheia ao meio e às personagens envolventes. Apesar de não interagir com a história, senti-me como uma espectadora próxima daqueles que a protagonizaram. Para mim, as relações entre as personagens e o relato das suas histórias pessoais é tão importante quando a própria história. O destino e as coincidências (e acasos) da vida das personagens, que moldam as suas personalidades e a forma como enfrentam o dia-a-dia, culminam num desfecho surpreendentemente imprevisível, até para o leitor de policiais mais experiente. Ao longo da leitura são-nos apresentadas tramas e vários indícios relativamente ao culpado e às razões porque tudo aconteceu. Contudo, eu só descortinei estas pequenas peças quando o puzzle já estava montado. As personagens principais formam um par único, pelo qual senti, imediatamente e inconscientemente, uma enorme empatia. Cada um encontra-se embrenhado na sua vida presente, juntamente com os problemas e deveres que ela acarreta. Cada um vive na sua rotina atormentado por um passado já vivido, mas não esquecido. As suas histórias pessoais traçaram as características que os definem e distinguem dos demais e o leitor tem, gradualmente, acesso a todos os detalhes que melhor os descrevem, permitindo-o conhecer e compreender as suas atitudes, acções e pensamentos. Mais do que simples personagens, Kevin Byrne e Jessica Balzano adquirem contornos reais. Na sua natureza desvendei comportamentos verdadeiramente humanos: sofri quando estavam em baixo e sorri quando o seu sofrimento foi atenuado. A descrição e apresentação cuidada de todas as personagens envolventes é um dos aspectos primordiais que aprecio imenso. Ninguém é dispensável do enredo; nenhuma das personagens é regalada para segundo plano, nem mesmo as que interpretam um papel mais secundário. Tive imenso prazer em conhecer este autor e sinto-me, de certa forma, privilegiada por ter tido a oportunidade de ler a sua única obra traduzida em Português. Durante a leitura, surgiu no meu pensamento o nome do escritor de policias Henning Mankell e devo dizer que Richard Montanari se iguala a este autor sueco, tanto na qualidade e originalidade da escrita e do enredo, como na genialidade e perspicácia. Nunca antes, nos meus comentários, mencionei o trabalho desempenhado pelos tradutores. Um trabalho que considero indispensável e essencial para todos os leitores. Sendo a tradução o meu ofício, vou pronunciar-me sobre este aspecto em relação a este livro. Apesar de apenas ter lido a obra traduzida e não ter tido acesso ao original, sinto que a tradução foi mais do que bem executada: a escrita é fluída e a escolha de palavras bastante pertinente. Para concluir quero fazer uma pequena, mas importante, advertência: não é um livro adequado para os leitores mais sensíveis! Com "As Raparigas do Rosário", Richard Montanari cria a sua própria definição para o termo "thriller", através de uma narrativa intensa e um ritmo implacável, que não dá descanso ao leitor. É uma obra inteligente e emocionalmente complexa. É um thriller terrivelmente apaixonante e envolvente de um autor que não tem medo de correr riscos, nem de explorar novos caminhos, deixando o leitor encantado e comovido durante muito tempo após o virar da última página. Um dos melhores livros que li até hoje. Se possível, tinha-o lido de uma vez só....more
Antes de mais quero dizer que estou verdadeiramente feliz por finalmente ter acabado de ler este livro.Foi uma leitura cansativa e demorada. Estava à Antes de mais quero dizer que estou verdadeiramente feliz por finalmente ter acabado de ler este livro.Foi uma leitura cansativa e demorada. Estava à espera de gostar, uma vez que a sinopse é prometedora. Esta diz que tem para nos oferecer um thriller emocionante, que tem como personagem principal Grace Flint. Logo no início da história, a agente secreta vê a sua vida por um fio. No entanto, consegue recuperar e aqui começa o verdadeiro enredo: a sua busca solitária e desenfreada pela vingança.Durante a perseguição pelo seu atacante somos ainda confrontados com os seguintes temas: lavagem de dinheiro, traição, extorsão, conspiração e ainda espionagem. O livro tem dois fios condutores principais. Um deles retrata as acções de Flint e o outro mantém-nos a par do que várias pessoas estão a fazer para a encontrar. Na minha opinião, o livro é muito confuso. São mencionadas tantas personagens, acontecimentos e conexões que a determinada altura eu já não sabia quem fez o quê e quando e porque razão. Tornou-se muito complicado acompanhar o seguimento e não consegui estabelecer uma ligação com a história. Para mim, a parte mais interessante do livro, foi a narrativa respeitante ao caminho, pensamento e acções de Flint. De qualquer forma, esta pequena parte que gostei acabou por não ter o mínimo impacto em mim quando o final se relevou previsível e decepcionante. A narrativa, tal como a história, também se tornou saturante. O autor coloca à nossa disposição várias perspectivas. Estamos a ler a acção no momento em que está acontecer e, de um momento para o outro, é-nos descrita uma situação, num futuro próximo, onde as personagens estão a analisar o que aconteceu na acção presente. Não sei se me expliquei muito bem, mas é como eu digo, o livro é bastante confuso e quer-me parecer que não o entendi na sua integridade. De qualquer forma, recomendo este livro. Gostava de ler a vossa opinião. Se calhar apenas escolhi a altura errada para o ler. Espero que gostem :)...more
Sorry, that person's shelf is private.
Maria João
>
Books:
leituras-2012
(76)
Loading...
