Só Ler Não Basta discussion

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Discussão Março 2015 > Tema do mês: Autores Lusófonos

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message 1: by Diana Marques (new)

Diana Marques | Papéis e Letras (diana_papeiseletras) | 162 comments Mod
Olá a todos! :)

O tema deste mês reflecte um pouco o nosso desejo de lermos mais autores de língua portuguesa. Sentimos que temos deixado de lado autores lusófonos em prol de autores de nacionalidade maioritariamente inglesa e americana, e por isso este mês a nossa discussão vai andar em torno da literatura lusófona. Propomo-nos, ainda, a ler pelo menos um livro em português.

Por isso, queremos saber: vocês lêem mais autores que escrevem em português ou inglês? Se forem como nós e lerem maioritariamente em inglês, acham que isso é uma decisão consciente? Acham que não têm tanto conhecimento sobre literatura lusófona então vão para o que já conhecem?
Para quem lê autores da lusofonia: o que mais gostam e recomendam?


message 2: by Landslide (last edited Mar 09, 2015 04:05AM) (new)

Landslide | 21 comments Eu leio maioritariamente autores britânicos e americanos. Não sei se será uma decisão consciente, acho que é mais porque são os autores e as histórias que me apetece ler neste momento...

É que os géneros que mais gosto de ler são o policial e o romance (de época, contemporâneo e/ou sensual) e, embora tenha vindo a aumentar nos últimos anos, a oferta de livros deste género escritos por autores portugueses é ainda muito pouca.

Nos últimos anos tenho feito, sim, um esforço consciente para ler, pelo menos, um livro de um autor português por ano. Eu sei que não é muito, mas já será qualquer coisa...

E, por acaso, neste momento, até estou a reler uma autora portuguesa.


message 3: by Su (new)

Su | 135 comments Que bom que decidiram abordar este tema! Já era uma questão que tinha ponderado e me preocupava um pouco há imenso tempo, mas só quando, no início deste ano, decidi usar o template de excel da Célia da Estante de Livros que a Telma recomendou no artigo mensal de Janeiro é que me apercebi realmente da dimensão do problema. E digo problema porque dos 36 livros que li em 2014, apercebi-me que apenas DOIS não eram originalmente escritos em inglês (EUA, UK, Austrália, etc)! E desses dois, um é da trilogia do Stieg Larsson (sueco) e o outro do Carlos Ruiz Zafón (espanhol), ou seja, nem um único em português. E para piorar mais um pouco, dos 34 em inglês, 28 são dos EUA e os outros 6 das restantes nacionalidades anglófonas todas juntas, ou seja, quase 80% das minhas leituras no ano passado foram norte-americanas! Decidi então avaliar a minha to-read list do Goodreads e a tendência mantém-se: 80% anglo-americanos contra menos de 20% do resto do mundo inteiro!

Não me considero particularmente patriótica, mas reconheço que fiquei com problemas de consciência ao aperceber-me disto, porque se eu como portuguesa e cidadã europeia tenho estes hábitos de leitura, quem é que há-de ler o que é nosso, não é mesmo? Sabia que as minhas leituras tinhas uma grande predominância anglófona, mas confesso que antes de olhar para a contagem, assim em números, preto no branco, nunca imaginei que fosse tanto!

Tomei então a decisão de contrariar esta tendência... mas não está a ir nada bem! Dos 10 livros que li/estou actualmente a ler desde o início de 2015, um é alemão, outro inglês e 8 são norte-americanos. Uma das razões imediatas penso que seja o facto de ser difícil reverter a tendência rapidamente, sendo que leio imensas colecções e sagas, que já havia iniciado antes e quero continuar e terminar. No entanto, é muito mais complexo que isso e prende-se com a pergunta da discussão sobre se é ou não uma decisão consciente. Considero que há aqui duas razões maioritárias, uma que penso ser geral e que possivelmente se aplica todos nós, a outra é mais pessoal relativa aos meus géneros e gostos em leituras em particular. Deixaria as minhas considerações sobre ambas em breve.


message 4: by Chloe (last edited Mar 09, 2015 07:47AM) (new)

Chloe | 20 comments QUANDO DEIXEI DE LER LIVROS INFANTO-JUVENIS E QUANDO COMECEI A LER LIVROS PARA ADULTOS RESOLVI LER TODOS OS AUTORES CLÁSSICOS PORTUGUESES (EÇA DE QUEIROZ É O FAVORITO), PORQUE ACHEI IMPORTANTE CONHECER OS «AUTORES DE SEMPRE» DA MINHA LÍNGUA MATERNA.ESTA TAREFA AINDA NÃO TERMINOU.
HOJE EM DIA, LEIO UMA MISTURA DE ESCRITORES DE VÁRIAS NACIONALIDADES E LÍNGUAS,MAS VOU TENTAR SEMPRE LER AUTORES PORTUGUESES E/OU LUSÓFONOS. UM DOS MEUS AUTORES LUSÓFONOS FAVORITOS É O JORGE AMADO RECOMENDO A TODA AS PESSOAS.


message 5: by Su (new)

Su | 135 comments Luís wrote: "Eu costumo mais ler livros traduzidos para português.E também leio muita literatura de autores portugueses.Mas também me dá gozo ler livros escritos em francês,como mesmo em inglês.

Na minha opinião,ler livros em inglês não é mau de todo,até para quem teve noções básicas de inglês na escola.Mas no meu caso,como só tive dois ou três anos de ensino do inglês,estes livros servem-me para aprofundar ainda mais os meus conhecimentos nessa mesma língua."


Luís, é interessante a questão que mencionas acerca de ler livros noutras línguas, até para aprofundar os nossos conhecimentos das mesmas relativamente ao que aprendemos, por exemplo, na escola. A questão das línguas em que lemos, penso que se prende hoje em dia essencialmente com a disponibilidade, acessibilidade e principalmente preços dos livros em inglês, comparados com as traduções dos mesmos livros em português. Fiquei especialmente alertada para essa realidade quando li um comentário de um português, acho que até foi aqui no Goodreads, que dizia que lia Saramago em inglês porque os livros eram mais baratos! É por isso uma temática que também daria sem dúvida pano para mangas, no entanto, penso que a questão que se está a discutir aqui não é tanto essa, a língua em que fazemos as nossas leituras, mas sim a língua original das nossas leituras, no sentido da nacionalidade do próprio livro ou do autror, independentemente de lermos o livro na língua original ou traduzida.

Eu, por exemplo, desde que tenho o Kobo, de há uns 2 dois para cá, tenho lido imenso em inglês. De qualquer forma, muito antes de tomar a decisão de ler livros em inglês, os livros que eu lia na sua tradução para a língua portuguesa, já eram maioritariamente livros anglófonos. Não sei se esta tendência é geral, mas definitivamente não sou a única e conheço imensas leitoras portuguesas a quem acontece o mesmo. Penso que é um facto interessante de explorar, perceber até que ponto esta tendêcia é geral ou não, e quais as razões que levam esses leitores a concentrarem-se tanto nos livros anglo-americanos.


message 6: by Diana Marques (new)

Diana Marques | Papéis e Letras (diana_papeiseletras) | 162 comments Mod
Su wrote: "Que bom que decidiram abordar este tema! Já era uma questão que tinha ponderado e me preocupava um pouco há imenso tempo, mas só quando, no início deste ano, decidi usar o template de excel da Céli..."

Eu o ano passado ainda consegui ler dois autores lusófonos! O David Soares (O Evangelho do Enforcado) e a Leticia Wierzchowski (A Casa das Sete Mulheres), mas sinto falta de conhecer mais autores tanto do meu país como de outros países onde se fala português. O mercado anglo-saxónico é, de longe, o maior, e acho que é por isso que acabamos por ler mais livros dessa origem. Mas este ano tomei a decisão consciente de ler autores lusófonos, porque, tal como tu dizes, se eu não ler os livros escritos na minha própria língua, quem é que os vai ler? Mas é engraçado, porque um dos meus autores favoritos de sempre, e cada vez que sai um livro compro, é português: o José Luís Peixoto.

Já agora, faço outra pergunta: acham que o marketing deveria ser diferente, nas livrarias, por exemplo? Dar maior destaque a autores da lusofonia? Normalmente só costumo ver aqueles que são best-sellers como os livros do Lobo Antunes, do José Rodrigues dos Santos, Miguel Sousa Tavares... Acham que deveria ser dado mais destaque a mais autores? Ou acham que as coisas estão equilibradas?


message 7: by Ana (new)

Ana | 1 comments Eu leio maioritariamente autores ingleses ou americanos. Não é, de todo, uma decisão consciente, penso que é mais de acordo com o que me apetece ler e também com o que tenho disponível.
No entanto, quero, daqui para a frente, ler mais em português. Quando era mais nova, lia mais livros portugueses, nomeadamente os livros da coleção Uma Aventura, que foram sucesso de vendas e por motivos mais que merecidos. No entanto, agora tenciono, sem dúvida, ler outros autores portugueses, e este ano quero ler, pelo menos, cinco livros destes autores, vamos ver se consigo.


message 8: by Telma (last edited Mar 09, 2015 09:29AM) (new)

Telma (telmatxr) | 133 comments Mod
Su wrote: "mas só quando, no início deste ano, decidi usar o template de excel da Célia da Estante de Livros que a Telma recomendou no artigo mensal de Janeiro é que me apercebi realmente da dimensão do problema."
Estou contente que a minha sugestão tenha dado frutos. É interessante quando olhamos para os números das nossas leituras, não é? :)

E já agora, ando a ler no meu Kindle o "Dom Casmurro" livro de autor brasileiro que tirei gratuitamente do projecto Adamastor: http://projectoadamastor.org/


message 9: by Su (new)

Su | 135 comments ♥ Telma wrote: "E já agora, ando a ler no meu Kindle o "Dom Casmurro" livro de autor brasileiro que tirei gratuitamente do projecto Adamastor: http://projectoadamastor.org/ "

Obrigada pela indicação, não conhecia esse site. Com ebooks gratuitos em português só sabia do Projecto Gutenberg e da Biblioteca Digital Camões. Este último infelizmente só tem o formato pdf, não experimentei converter para ebub para ver se fica bem no Kobo, mas em pdf fica a letra demasiado pequena.


message 10: by Célia | Estante de Livros (last edited Mar 09, 2015 10:31AM) (new)

Célia | Estante de Livros (celiamar) Tal como quase todos os que comentaram neste tópico, a maioria dos livros que leio são de autores americanos/ingleses. Não é uma decisão consciente, acaba por ser um mix de publicarem livros dentro de géneros que gosto com ter pouco interesse/confiança em autores portugueses ainda sem grande nome.

Para 2015, decidi desafiar-me a ler pelo menos um livro por mês de um autor português. Tem estado a correr bem, já li 4 livros de autores portugueses num total de 22 terminados.

Acho sinceramente que temos bons escritores em Portugal, mas tenho algum receio em arriscar.

Quando recebo das editoras as novidades do mês (ou algo semelhante) tenho reparado que algumas (a Dom Quixote vem-me à memória) publica uma maioria de autores portugueses. Isto tem provavelmente a ver com a crise, porque teoricamente um autor português é mais barato de publicar.

Mais uma dica de um local com e-books de autores portugueses em domínio público: http://www.luso-livros.net/livros/


message 11: by Telma (new)

Telma (telmatxr) | 133 comments Mod
Landslide wrote: "É que os géneros que mais gosto de ler são o policial e o romance (de época, contemporâneo e/ou sensual) e, embora tenha vindo a aumentar nos últimos anos, a oferta de livros deste género escritos por autores portugueses é ainda muito pouca."

É verdade, sinto o mesmo que tu. Agora saíu o O Cavalheiro Inglês da Carla M. Soares que parece fazer parte de uma dessas categorias que tanto gostamos. :) É daqueles livros que já ando a suspirar há algum tempo e isso não me acontece com autores portugueses (ou lusófonos) há muitos anos.


message 12: by Su (last edited Mar 09, 2015 11:57AM) (new)

Su | 135 comments Se forem como nós e lerem maioritariamente em inglês, acham que isso é uma decisão consciente? Acham que não têm tanto conhecimento sobre literatura lusófona então vão para o que já conhecem?"

Como prometido aqui ficam as minhas (extensas) considerações, gerais e pessoais, sobre as razões por que tanta gente tem uma predominância de leituras anglófonas.

Sobre o aspecto geral, penso que se prende bastante com a globalização e o facto de a internet ligar de repente uma comunidade muito grande num espaço muito alargado. Tudo viaja à velocidade de um clique, incluindo as tendências, nomeadamente as literárias. Os EUA são uma potência, o mercado deles está visível e acessível, pelo que tudo o que é um hit lá, rapidamente se torna igualmente um êxito noutras partes do globo, incluindo a Europa. Acontece com o cinema, acontece com a música, acontece com os programas de tv, pelo que pensando um pouco não é de todo surpreendente que aconteça também com os livros. Se eu fosse fazer contagens em cada uma destas áreas também, chegaria ao mesmo tipo de estatísticas de que tudo o que é entretenimento é maioritariamente liderado pelos sucessos norte-americanos, e a literatura não é excepção.

A língua é sem dúvida uma das razões que ajuda imenso. Se tiver curiosidade num livro anglófono posso pura e simplesmente comprá-lo e lê-lo na versão original porque sei ler inglês, tive 7 anos na escola e uso diariamente no contexto académico e científico em que trabalho, enquanto para qualquer outra língua não lusófona ou anglófona, terei que esperar pela tradução em português se esta sequer vier a existir. Considero, no entanto, que as tendências de mercado e a publicidade potenciadas pela rapidez e raio de impacto da internet, por exemplo através das redes sociais ou do acesso fácil a notícias e programas dos EUA, são a maior razão para tal, até mais do que a acessibilidade do inglês. Se eu quiser ler um livro que seja um sucesso num qualquer país europeu, tenho de fazer o esforço consciente de procurar essa informação. Todos sabemos sem fazer qualquer esforço premeditado em buscar tais dados, os filmes, as músicas ou os livros que estão nos tops dos EUA, quando provavelmente não fazemos a mais pequena ideia do que acontece aqui mesmo ao lado em Espanha ou em França, para não ir sequer mais longe. Como o facto de serem sucesso nos EUA é em si publicidade quase suficiente para vender bem, as próprias editoras portuguesas (e suponho que noutros países da Europa também) viram-se inevitavelmente para eles como boa fonte de lucro que são. Entramos então num ciclo vicioso que depois é difícil de saber onde começa e onde termina, será que lemos mais esses livros porque é o que as nossas editoras promovem ou que as nossas editoras promovem-nos porque é isso que os leitores querem? Depois de entrarmos no ciclo, provavelmente ambos são verdadeiros e é muito complicado inverter a tendência. É realmente preciso fazer um esforço consciente de remar contra a maré.

Até tenho curiosidade em saber, pois não tenho mesmo noção, se autores best-sellers europeus aqui em Portugal, como são por exemplo o Stieg Larsson e o Carlos Ruiz Zafón que referi no comentário acima, foram cá publicados pelo seu sucesso no país de origem ou apenas devido ou após o seu sucesso no país de origem atingir o sucesso em países anglófonos.

Quanto à razão mais pessoal de ler tão pouco autores lusófonos, está realcionada com a falta de livros dentro dos meus géneros de eleição. Não sou muito de ler romances contemporâneos ou históricos. Os géneros que me chamam mais a atenção são sobretudo a fantasia, ficção científica/distopia e mistério/crime. Depois de me aperceber do quão pouco lia autores nacionais, assim como lusófonos no geral, ou até mesmo europeus, fiz uma pesquisa consciente para procurar autores não anglófonos, ou pelo menos não norte-americanos que me interessassem. A conclusão a que cheguei foi que, apesar de em parte a tendência se dever sem dúvida à predominância da literatura anglófona como descrevi no parágrafo acima, a verdade é que em minha defesa a oferta da literatura lusófona não é muito fértil nos géneros que referi. Tenho andado nas horas vagas a fazer mesmo uma pesquisa mais a fundo e tenho descoberto coisas deveras interessantes, ainda que nem sempre muito felizes, que não fazia ideia.

Penso que é do conhecimento geral que a fantasia e ficção científica são géneros muito escassos em português. Há alguns, poucos, autores jovens que começam a aparecer e a tentar a sua sorte no género com algum sucesso, como são os casos dos portugueses Sandra Carvalho (a minha favorita), Filipe Faria e L.C. Lavado, ou do brasileiro Eduardo Spohr, mas a maioria são obras praticamente desconhecidas do público e ainda um pouco imaturas. Criei até uma lista no Goodreads para fazer um apanhado de obras lusófonas de fantasia: Fantasia em Português. Por favor, acrescentem livros que conheçam dentro dos critérios se estes estiverem ausentes. Se por um lado vejo isto de forma muito positiva como um primeiro passo para alterar esta realidade, por outro não há dúvida que a literatura anglófona está num nível tão superior que é natural para quem lê este género privilegiar inquestionavelmente a mesma.

A minha verdadeira surpresa veio da minha pesquisa sobre policiais. Se os géneros de fantasia e ficção científica sempre foram (e ainda são, infelizmente) mal vistos pela crítica intelectual no geral, seja na literatura, no cinema ou nas séries, salvo raras e pontuais excepções, o mesmo não acontece com o crime/mistério, ou assim achava eu! Pensando sempre em grandes nomes do género como Agatha Christie, Edgar Allan Poe e Sir Arthur Conan Doyle, nunca me passou pela cabeça que o género fosse outra coisa que não amplamente respeitado. Fiquei no entanto a saber que quando o género começou a ser publicado em Portugal a partir de meados do século XIX, era essencialmente através de publicações de bolso, vistas como literatura inferior, de segunda. Sendo já este um facto infeliz por si mesmo, acontece que aqui entra ainda a velha máxima do português que só o que se faz lá fora é que é bom e digno de nota. Os títulos policiais de autores nacionais saiam então com pseudónimos com sonoridade inglesa e eram passados sempre em terras britânicas e afins por duas razões: 1ª censura, como é óbvio o regime funcionava tão bem que claramente não existia criminalidade de qualquer tipo logo não fazia sentido haver crimes para resolver no nosso país ainda que estes fossem ficção; 2ª os leitores portugueses não compravam ou não liam os autores nacionais porque o que é estrangeiro é que é bom. Houve então durante anos livros de autores que assinavam coisas como Dennis McShade, quando na realidade o autor era um português, Dinis Machado! É daquelas coisas que quase dá para rir, pois se não fosse tão triste até era engraçado! :( E parece que tendo-se ultrapassado o preconceito com o género em si, infelizmente a tradição de escrever livros portugueses inseridos no mesmo continua igualmente escassa.

Penso por estas razões que esta é realmente uma questão bastante complexa, com factores culturais que já vêm muito de trás na nossa história e que demoram por vezes muitas gerações a serem alterados. Já agora, agradeço se tiverem sugestões de boas leituras lusófonas nos géneros que referi que mencionem aqui! :)


message 13: by Landslide (new)

Landslide | 21 comments ♥ Telma wrote: "Landslide wrote: "É que os géneros que mais gosto de ler são o policial e o romance (de época, contemporâneo e/ou sensual) e, embora tenha vindo a aumentar nos últimos anos, a oferta de livros dest..."

Sim, também estou muito curiosa com esse livro, mas entretanto comprei o primeiro dela, o Alma Rebelde, e quero mesmo ver se o leio..


message 14: by Carla (new)

Carla (whitelady) | 68 comments Mod
Célia wrote: "Acho sinceramente que temos bons escritores em Portugal, mas tenho algum receio em arriscar.

Quando recebo das editoras as novidades do mês (ou algo semelhante) tenho reparado que algumas (a Dom Quixote vem-me à memória) publica uma maioria de autores portugueses. Isto tem provavelmente a ver com a crise, porque teoricamente um autor português é mais barato de publicar."


Eu começo a ficar mais aberta às sugestões que vejo sobretudo na Roda dos Livros. Não tinha a noção de que havia realmente tanto escritor português a ser publicado e o entusiasmo com que algumas pessoas do grupo falam contagiam-me. Infelizmente ainda não fiz o meu trabalho, que é pegar nos livros. :P

Pode ser só impressão minha, mas a Tinta da China também parece publicar bastantes.

Su wrote: "Se eu quiser ler um livro que seja um sucesso num qualquer país europeu, tenho de fazer o esforço consciente de procurar essa informação."

Sem dúvida, implica mesmo sair um pouco da nossa zona de conforto, não? E não digo tanto em termos de ter de sair de um género que se gosta mas porque dentro dos géneros que gostamos, o resultado acaba por ser bastante diferente. Não sei se me fiz entender (a hora não permite que eu seja coerente :P) mas lembrei-me por exemplo das ficções históricas que tenho lido em português, da autoria de João Paulo Oliveira e Costa e Deana Barroqueiro. São livros lentos, que se prestam mais a apresentar a História e os grandes feitos portugueses, e deixem-me desde já dizer que são magníficos, mas depois parece faltar a componente de acção e entretenimento que têm os livros do Bernard Cornwell, que pelo menos para mim acabam por ser bem mais apetecíveis.


message 15: by Su (new)

Su | 135 comments Ana wrote: "Quando era mais nova, lia mais livros portugueses, nomeadamente os livros da coleção Uma Aventura, que foram sucesso de vendas e por motivos mais que merecidos."

Acontece-me exactamente o mesmo Ana! Ainda outro dia estava a pensar nisso. Como é que é possível termos uma oferta tão fértil em livros infantis e depois de repente haver uma lacuna tão gigante?

Em termos de livros infantis lia imenso autores portugueses e consigo indicar vários de cabeça agora mesmo: Sophia de Mello Breyner Andresen, Alice Vieira, colecções como Uma Aventura, Viagens no Tempo, Clube das Chaves, Detective Maravilhas, Teodora, Triângulo J e Profissão Adolescente. Estes últimos já se chegam mais a um público juvenil mas depois deixa de existir oferta.

A faixa etária comummente denominada como Young Adult, liderada por best-sellers mundiais como Harry Potter (principalmente os últimos que são menos infantis), Crepúsculo, Jogos da Fome, Divergente, independentemente da sua qualidade, não têm qualquer paralelo em português, pelo menos que eu conheça. Essa pode ser também uma grande contribuição para o afastamento do público da literatura portuguesa à semelhança do que aconteceu comigo.

Em criança lia muito em português, depois entrei na fase Harry Potter, em que não tinha o mínimo interesse em literatura direccionada para adultos, mas já não me cativavam as histórias infantis. E foi aí que enveredei pela fantasia anglófona, com as Crónicas de Nárnia, Mundos Paralelos, o Senhor dos Anéis, Eragon, Sevenwaters, etc. Foi este o caminho que me levou, hoje em dia, a deparar-me com uma predominância esmagadora anglófona nas minhas leituras. Com as excepções que já referi da Sandra Carvalho e Filipe Faria, nunca mais peguei em autores portugueses, tirando as leituras obrigatórias da escola, as quais não me lembro de nada além dos Maias, que não faz de todo o meu género. Estou agora a fazer um esforço para contrariar isto, mas talvez se tivesse sido uma transição natural em que nunca deixasse de pegar em autores nacionais, este esforço consciente não fosse necessário.


message 16: by Evelin (last edited Mar 10, 2015 04:39PM) (new)

Evelin | 3 comments Assim como a maioria que comentou acima, pouco li/leio de autores que escrevem em português. Tenho tentado ler mais autores do meu país, o Brasil, e da América Latina. Costumo diversificar minhas leituras, alternando autores e gêneros. Tomando o ano passado como exemplo, li autor(es) português, ingleses, colombiano, iraniano, tcheco, norte-americanos, brasileiros, norueguês. De 27 livros, três eram de autores lusófonos.

Fazendo um balanço do grosso de minhas leituras, a maioria é de autores anglófonos. Mas há uma diversidade razoável de autores que escreveram em outras línguas. Gosto muito de clássicos e histórias de época. Não é que no Brasil não tenha bons autores clássicos, mas o português do início do século XX e séculos anteriores não me agrada a leitura. Leio apenas em português, então a tradução acaba tornando a leitura de clássicos mais palatável, tenho essa impressão, o que faz com que eu procure ler esse gênero em outras línguas que não a minha.


message 17: by Diana Marques (new)

Diana Marques | Papéis e Letras (diana_papeiseletras) | 162 comments Mod
Penso que já foram mencionadas questões interessantes e importantes no que toca às leituras de autores lusófonos.

A Su falou na questão dos autores do século XIX terem que publicar os seus romances policiais lá fora através de pseudónimos (desculpa, mas o pseudónimo Dennis McShade é o máximo!), para poderem ser lidos em português. Acham que ainda acontece? Não em relação aos pseudónimos mas à necessidade de ser reconhecido no estrangeiro para ter algum sucesso cá dentro.

Lembro-me, por exemplo, que acontecia e acontece a mesma coisa no panorama musical. Há uns anos teve, inclusive, que se impôr quotas para a passagem de música portuguesa nas rádios, porque a que passava era basicamente nenhuma. Agora acho que passa entre 20% a 40%.

Então acham que no caso da literatura acaba por acontecer algo semelhante? Os autores só passam a ser reconhecidos aqui quando têm sucesso e são aplaudidos lá fora?


message 18: by Su (new)

Su | 135 comments Diana wrote: "Já agora, faço outra pergunta: acham que o marketing deveria ser diferente, nas livrarias, por exemplo? Dar maior destaque a autores da lusofonia? Normalmente só costumo ver aqueles que são best-sellers como os livros do Lobo Antunes, do José Rodrigues dos Santos, Miguel Sousa Tavares... Acham que deveria ser dado mais destaque a mais autores? Ou acham que as coisas estão equilibradas?"

Sobre esta questão sinceramente não me sei posicionar muito bem porque não tenho grande noção de como é o marketing das livrarias, físicas pelo menos. Sou capaz de entrar numa Fnac de vez em quando, mas é cada vez mais raro pois hoje em dia costumo comprar os meus livros em livrarias online, como a Wook ou a Fnac online ou mesmo das próprias editoras como a Presença e a Saída de Emergência. Nestes casos penso que o marketing é mais na base do aproveite o dia com x% de desconto, portes grátis, um vale para gastar mais tarde, ou acumular em cartão. Também existem promoções e descontos para um certo género, autor, ou pré-selecção de livros, mas parece sempre bastante generalizado. Há newsletters com as novidades, claramente destacando sempre as mais novas obras de autores já consagrados ou muito vendidos, mas não sinto que haja um marketing muito forte a inclinar o leitor numa certa direcção, ou então se há comigo não funciona porque nem me apercebo. No geral publicita-se mais aquilo que já se sabe à partida que vai vender, independentemente do que é.

No entanto, pela minha experiência recente, até tenho a queixa contrária. Andava desde Junho do ano passado quando foi lançado em inglês o novo livro da J.K. Rowling sob pseudónimo Robert Galbraith a ver quando seria publicado por cá pela Presença. Recebi as newsletters deles, consultei a página web nas novidades e facebook durante meses, e mesmo assim consegui saber da data de lançamento primeiro no Goodreads e recebi newsletters tanto da Fnac como da Wook, com promoções pré-venda, antes de eles publicarem no próprio site e facebook! Na altura até fiquei mesmo irritada porque fiz um esforço consciente para dar oportunidade às nossas editoras e comprar a tradução portuguesa e a sensação que dá quase é "esta gente parece que não quer vender!". Demoram mais de 6 meses para traduzir o livro (se não tivesse interesse em emprestá-lo depois a pessoas mais velhas, teria acabado por comprar o livro em inglês mesmo), deixam passar a altura do Natal que seria na minha opinião de quem não percebe nada de marketing o momento ideal para este tipo de lançamentos, e atiram com a novidade para Janeiro sem nem se dar ao trabalho de fazer nenhuma propaganda por aí além. Isto tudo para dizer que, até posso talvez estar a ser injusta, mas a verdade é que com a internet e as redes sociais as coisas não funcionam como antigamente e as pessoas esperam estar sempre informadas, em cima do acontecimento, a as estratégias de vendas e publicidade devem ser alteradas e adaptadas às novas tecnologias se não querem eventualmente começar a ficar obsoletas. Mais de meio ano talvez até seja razoável para o trabalho que dá a traduzir e publicar, sinceramente não sei, mas sei que como consumidora, esperar todo esse tempo para ler um qualquer livro que está na voga, que tanta gente fala e anda a ler, e que quando finalmente sai cá já tem aquela noção de que já não é novidade gera descontentamento. Seria como fazerem os lançamentos dos filmes no cinema 6 meses depois de estrearem em Hollywood, até podia funcionar na era pré-internet, mas não hoje em dia. A internet alarga a âmbito da comunidade em que nos inserimos e mesmo se nos limitarmos a contactar com leitores portugueses é normal que leiam lançamentos quando saem lá fora, sem esperar pelo lançamento cá. Talvez eu esteja a afastar-me um pouco da questão central, sendo que o tema são autores lusófonos, mas penso que isto realmente está no cerne da razão porque damos por nós a ler tanto autores anglófonos.

O marketing das livrarias até pode ainda ter bastante influência noutra geração, mas há um crescente número de pessoas, maioritariamente jovens, que provavelmente apoiam-se muito mais nas redes sociais, se informam sobre livros e autores, opiniões e críticas de amigos ou pessoas que têm como referência e penso que a longo prazo as coisas tentem a evoluir nesse sentido, então o modelo de negócio também tem de evoluir. Desde que uso o Goodreads, por exemplo, e aqueles de vocês que têm ou acompanham blogs provavelmente até sentem ainda mais isso e o fazem há mais tempo, dependo muito menos daquilo que a livraria expõe na prateleira ou até em destaque na entrada para chamar a minha atenção ou do que se publica cá em Portugal. Desde que comecei a ler em inglês que sinto um pouco como se estivéssemos até então limitados com umas talas aquilo que as editoras queriam que víssemos e consumíssemos e de repente posso escolher o que quero tão rápido quanto o seu lançamento mundial. Claro que isto não deixa de ser uma ilusão porque se limita aos lançamentos em inglês, só que são TANTOS, que acabamos por ficar com a noção completamente equivocada inconscientemente que o mercado anglo-americano é o "mundo". E são tantos os leitores portugueses que se vêem nesta situação que depois formam um efeito em cadeia, e mesmo leitores que não contactam directamente com o que se passa lá fora, contactam com portugueses que contactam então o efeito acaba por se fazer sentir da mesma forma. A nossa rede de referência é cada vez mais global, então acabamos por estar sempre e talvez até expostos às recomendações do que se publica e vende lá fora do que aqui, nas nossas próprias editoras e livrarias.


message 19: by Su (last edited Mar 12, 2015 05:26AM) (new)

Su | 135 comments Whitelady3 wrote: "Sem dúvida, implica mesmo sair um pouco da nossa zona de conforto, não? E não digo tanto em termos de ter de sair de um género que se gosta mas porque dentro dos géneros que gostamos, o resultado acaba por ser bastante diferente."

Ao início não estava a perceber muito bem onde querias chegar, mas com o exemplo ficou bastante claro. Acho que isso que mencionas acaba por ser talvez não uma característica em si dos autores lusófonos, mas mais uma consequência da falta de diversidade que falávamos, tanto em termos de géneros como dentro dos próprios géneros. Como já disse não sou grande apreciadora nem conhecedora de ficção histórica, mas imagino que em inglês também haja esses livros mais lentos e descritivos, que carecem de momentos de acção para contrabalançar. Acontece é que dentro de um mesmo género são tantos, mas tantos, e tão diferentes entre si que há sempre para todos os gostos, ao passo que em português são aquela meia dúzia de autores e pronto, ou gostamos ou não há grande alternativa. Dentro da fantasia acontece o mesmo, costumo classificar os livros com base em sub-géneros mais detalhados como fantasia épica, fantasia urbana, romance paranormal, fantasia young-adult, etc, em português haver algo dentro da tão abrangente fantasia já é um feito.

Não sei bem se alargarmos para autores lusófonos em vez de apenas portugueses o caso muda muito de figura ou não. A verdade é que acho que há muito pouca divulgação e conhecimento. Pessoalmente considero que o único mercado literário lusófono não português que ainda vamos tendo alguma noção é talvez o brasileiro, apenas porque o Brasil é um país mesmo muito grande e sente-se bastante a sua presença online em tudo o que é escrito em português. Mesmo assim em termos de editoras e divlgação oficial não se sente uma proximidade tão grande na literatura como noutras áreas, como são por exemplo as telenovelas ou a música, que tanto "importamos" do Brasil. Acho que é muito mais natural ver livros destacados com frases como "não sei quantas semanas no top do New York Times" do que "sucesso brasileiro". É uma pena realmente que não exista uma maior união e intercambio na literatura a nível dos países lusófonos. Talvez tenhamos que ser nós, leitores lusófonos e fazer esse esforço e dar esse primeiro passo de divulgação e existindo esse interesse o próprio mercado depois se posicione nesse sentido.


message 20: by Su (new)

Su | 135 comments Qual ou quais são os vossos autores lusófonos favoritos?


message 21: by Telma (last edited Mar 19, 2015 10:00AM) (new)

Telma (telmatxr) | 133 comments Mod
Confesso que, tirando a Alice Vieira, o Fernando Pessoa e o Eça de Queirós, nenhum.
Estou a fazer um esforço enorme com a minha leitura do Dom Casmurro do Machado de Assis, não gostei da ficção do Mia Couto mas sim da sua não-ficção, desisti a meio do Era Bom que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto do Mário de Carvalho, detestei os 3 livros que li do José Saramago. Não gostei lá muito do A Conspiração dos Antepassados do David Soares.

A verdade é que ainda não desisti. Recuso-me a acreditar que o Séc. XX só nos deu autores que falam de temas chatos e desinteressantes. Acredito que a culpa é minha, porque 90% do tempo leio por entretenimento mais do que por cultura ou por reflexão. Mas mesmo assim tenho tido muito azar com as minhas escolhas e morro sempre um bocadinho quando oiço alguém dizer que ADOROU Ondjaki e eu penso "Quero ler mas não quero ler."


message 22: by Patrícia (new)

Patrícia (pat_lerporai) | 18 comments No ano passado 52% dos livros que li (21/40) eram de autores Portugueses.
Foi uma escolha consciente, uma tentativa de ler mais autores Portugueses. Acho que comecei a ter vergonha de ser Portuguesa e não conhecer a maioria dos escritores Portugueses.
Li os outros comentários todos e concordo com a maioria do que foi escrito.
Passei a vida a ouvir da minha mãe “Mas não lês nada de autores portugueses?” e a responder com um encolher de ombros. Na verdade nada me chamava a atenção. Hoje (e apenas se passaram 20 anos) as coisas estão completamente diferentes. Há imensa gente a escrever para miúdos – mesmo em Português. Já para adolescentes não é bem assim.
O primeiro livro que quis realmente ler foi o “O amor é fodido” do Miguel Esteves Cardoso e as razões não eram as melhores – digamos que naquela altura um título destes chocava (e ainda eu não fazia ideia do conteúdo).
Isto para dizer que durante muitos anos a escolha era pouca e o marketing inexistente – uma elite escrevia para outra elite e eu não fazia parte de nenhuma – pelo menos era isso que achava.
Quando entrei para a Roda dos Livros e comecei a participar na Comunidade de leitores da Leya comecei a ter acesso e a interessar-me pela primeira vez pelo que por cá se escreve. E tive óptimas surpresas e, se ainda não conheço a maior dos escritores, começo a ter uma ideia do que por cá se faz. E assumidamente gosto.
Como se põe um miúdo a ler em Português? - acho que este é A pergunta.
Os livros obrigatórios são pouco apropriados – não fomentam o gosto para leitura – valham-lhes os apontamentos Europa-américa, a melhor coisinha que inventaram.
Mas ponham-nos a ler coisas giras que a coisa muda. Li há pouco o “Anibaleitor” do Zink e pergunto-me porque é que não é leitura obrigatória das escolas – substituam o Auto da Barca do Inferno por este livro e vão ver que os miúdos ficam a ganhar.
Temos fantásticos escritores de livros infantis (veja-se a colecção Uma aventura, o clube das chaves, uns de vampiros de que não me lembro o nome, os livros TODOS da Alice Vieira ou a colecção (que já acabou, sniff, sniff) de Viagens no Tempo) mas novos autores – bons autores – de YA e fantasia precisam-se, com urgência. Temos alguns (Sandra Carvalho, Filipe Faria) mas poucos. E não vejo nenhuma editora a apostar neste género que tantas vezes é considerado menor. Precisamos de escritores para a adolescência (eu sei que há alguns, mas sinceramente não conheço).
Parte do problema está nas editoras (na minha opinião) – ou é demasiado fácil publicar e a qualidade é, no mínimo, duvidosa – falo das editoras que publicam tudo sem critérios (e nem vale a pena falar disso) ou é demasiado difícil publicar – parece que só os grandes nomes têm direito à vida. E é de todos os outros, os que ainda estão a crescer que é feito o panorama nacional.
Não há revisões decentes (e isto vale para o que se escreve em Português e para o que se traduz), há livros com erros ortográficos, com erros gramaticais, com erros de bradar aos céus (e eu sou da área da matemática e não das letras). Não há publicidade. Não há acções de marketing decentes (excepção feita para os prémios Leya, claro).
Teria muito mais a dizer mas o texto já vai longo (e já cortei tanta coisa – que este é um tema que me interessa e muito) por isso acabo com uma nota que provavelmente vai chatear muita gente (e peço desde já desculpa por isso mas é mesmo a minha opinião):
- Nos blogs e canais assume-se a responsabilidade da divulgação – tantas vezes vemos bloggers a reivindicar o respeito das editoras porque “somos nós os leitores e somos nós que damos os livros a conhecer” e depois a defenderem tanto as leituras em Inglês e/ou de escritores estrangeiros - pelos preços, pela falta de ebooks e por tantos outros argumentos que são válidos e verdadeiros – e a esquecerem-se de ler em Português.
Como na música, na literatura não está na moda o “made in Portugal”. Parece-me que as coisas começam, muitos aos poucos a mudar.
E agora sugestões em Português: Alice Vieira, Rosa Lobato de Faria, Afonso Cruz, Rui Zink, Paulo Morais, Ana Saragoça, Gonçalo M. Tavares, Lídia Jorge, Mário Zambujal, Saramago, Dulce Maria Cardoso, João Tordo, José Luís Peixoto, Miguel Esteves Cardoso, Sandra Carvalho…


message 23: by Su (new)

Su | 135 comments Compreendo-te perfeitamente, Telma, sinto exactamente o mesmo disso do "Quero ler mas não quero ler". Por um lado quero muito dar uma oportunidade a livros e escritores lusófonos, portugueses essencialmente, mas a minha experiência até agora deixa-me sempre muito de pé atrás, pensando se aquilo é para mim, ou melhor pensando que aquilo não é definitivamente para mim, mas tentado contrariar este preconceito. Aliás a Patrícia descreveu na perfeição o meu sentimento sobre a literatura portuguesa com a frase "uma elite escrevia para outra elite e eu não fazia parte de nenhuma". Talvez elite seja exagerar um pouco, mas realmente aquilo que sinto quando tento procurar algo para dar o primeiro passo de arriscar é que encontro escritores que escrevem para um qualquer público alvo, e com toda a qualidade que eles possam ter, eu não me vejo nesse público alvo. Há aqueles livros que a gente passa por eles numa estante de livraria e eles parecem gritar "Leva-me contigo! Vou ser o teu melhor amigo enquanto me leres!", parece que foram escritos especialmente para nós, apelam fortemente à vontade de os levarmos para casa e os lermos. Até poderão depois não ser nada do que imaginamos, mas despertam a vontade de experimentar. E não sinto isso com a esmagadora maioria da literatura em português. Se passo por ela nas estantes, olho, acho interessante, imagino até que apelarão a um grande número de leitores com um perfil diferente do meu, mas não “chamam” por mim. O comentário da Patrícia deu-me alguma esperança de conseguir ultrapassar esse preconceito e quem sabe encontrar alguns escritores lusófonos que venha a apreciar. Hei-de dar uma vista de olhos nos escritores sugeridos que não conheço. Estou na fase de "comecei a ter vergonha de ser Portuguesa e não conhecer a maioria dos escritores Portugueses".

Patrícia wrote: "Teria muito mais a dizer mas o texto já vai longo"
Gostei imenso de ler o texto e não me importaria nada de ler mais :) pelo contrário, também tenho interesse no tema, mas principalmente curiosidade de saber mais da perspectiva de alguém que já esteve neste impasse e agora tem tanto para partilhar, estando bem mais informada sobre o assunto.


message 24: by Su (new)

Su | 135 comments Diana wrote: "Então acham que no caso da literatura acaba por acontecer algo semelhante? Os autores só passam a ser reconhecidos aqui quando têm sucesso e são aplaudidos lá fora?"

Eu penso que essa mentalidade esta enraizada em quase tudo de forma por vezes até subtil e inconsciente na mente dos portugueses. Não é só o assumindo o made in Portugal não está na moda que a Patrícia referiu. É também uma certa diminuição de nós mesmos e daquilo que se faz cá por instinto, provavelmente baseado no facto de durante muito anos termos estado atrasados em relação ao progresso noutros países da Europa. Não é que não se vá reconhecendo aquilo que se faz só por cá, mas parece que há um misticismo qualquer em ir para fora que muda logo o nível que se atribui à pessoa em questão. No caso académico, por exemplo, que é o que conheço melhor para poder falar, podemos estudar cá e tirar um bom curso numa boa universidade que esteja ao mesmo nível de outras da Europa e somos respeitados, mas basta a afirmação de "estive alguns meses no estrangeiro noutra universidade a fazer isto" que se nota a reacção que eleva imediatamente a qualidade da pessoa em questão para outro patamar à parte tipo o pensamento "ah, mas esta pessoa afinal está noutro nível porque esteve lá fora", não por parte dos colegas, ou que quem está dentro do assunto, mas principalmente de quem está de fora da área e não faz uma ideia concreta do que se faz nem cá dentro nem lá fora. Não tiro a importância de contractar com o que se faz lá fora, para expandir horizontes, mas também há muita gente a vir para cá com as mesmas motivações e nós temos igualmente muito a oferecer, mas parece que os portugueses na maioria dos casos são os últimos a ver isso. A minha irmã que está a estudar em Inglaterra diz que teve a noção de que há muitas coisas interessantes, seja a nível de monumentos, seja a nível de iniciativas, ou de outra coisa qualquer, que nós também temos, tão bom ou até melhor do que lá, mas eles pegam nelas, expõem-nas na sua melhor forma e divulgam-nas como algo que vale realmente a pena ser conhecido, enquanto por cá é muito mais raro haver esse trabalho de dar a conhecer, tanto aos próprios portugueses como ao exterior. É velha máxima da confiança com que se passa a mensagem. Se a mensagem é nós temos aqui algo com mérito, vai haver interesse em conhecer, e quem gosta divulga. Se não há um primeiro público para receber a mensagem e posteriormente a passar, as coisas ficam no esquecimento. Talvez em certos casos até se possa alegar falta de dinheiro, mas acredito que na maioria dos casos é mais o descaso de acreditar "Who cares?", achar que ninguém vai dar valor e torna-se um ciclo vicioso. Se as pessoas não conhecem, não mostram interesse, e se não há mostra de interesse também não há público para se mostrar, então não se dá a conhecer.

Acredito então que o reconhecimento por parte do exterior é uma das formas de trazer essa valorização dos portugueses pelo que é nosso, de dar a conhecer, mas na literatura imagino que seja ainda mais complicado. À excepção de casos que se ganhe algum prémio internacional muito conceituado, por exemplo, não vejo qualquer forma de sermos reconhecidos lá fora sem sermos primeiramente reconhecidos cá dentro devido à barreira da língua. Quem é que vai fazer o esforço de traduzir e publicar uma obra lusófona, que no seu próprio país de origem nem teve qualquer visibilidade? Não posso falar daquilo que não conheço, mas sendo o mercado editorial tão competitivo e tão dependente em fortes elementos de marketing, não vejo nenhuma editora estrangeira a dar esse tiro no escuro. Daí esse primeiro passo estar na mão dos portugueses, o que não é ideal já que não somos assim muito “patriotas” com o que se produz por cá.

Por curiosidade, no seguimento desta questão, andei a fazer uma pesquisa de quais os escritores lusófonos mais traduzidos. A única informação que encontrei, foi do site Index Translationum da Unesco com uma lista do top 10 que achei interessante partilhar com vocês:
Paulo Coelho
José Saramago
Jorge Amado
Fernando Pessoa
Leonardo Boff
Eça de Queirós
António Lobo Antunes
José Mauro de Vasconcelos
Clarice Lispector
10º Machado de Assis


message 25: by Diana Marques (new)

Diana Marques | Papéis e Letras (diana_papeiseletras) | 162 comments Mod
Aproveitando o que a Patrícia escreveu, porque era uma pergunta que tinha aqui guardada para a discussão também, o que acham do papel da escola nisto tudo?
A escola ajuda ou desajuda no incentivo à leitura de autores de língua portuguesa, sejam ele portugueses ou não? E já nem falo no secundário em que temos que ler os autores que fazem parte do nosso canone. Mas nos anos anteriores, acham que falta estímulo à leitura de autores que escrevem em português?

E respondendo ali à Su em relação a autores favoritos: José Luís Peixoto, Fernando Pessoa, Florbela Espanca e gostei muito do Evangelho do Enforcado, do David Soares. E ao fazer esta mini lista percebo o quanto tenho que trabalhar mais para conhecer a literatura do meu país e da minha língua materna.


message 26: by Patrícia (new)

Patrícia (pat_lerporai) | 18 comments Diana wrote: " o que acham do papel da escola nisto tudo?
"


Acho que parte das vezes os professores ajudam, estimulam a leitura. Mas é muito difícil que um professor consiga fazer a diferença a 200 alunos. Há professores que fazem a diferença em casos pontuais. O grande estímulo deveria ser feito em casa. O papel dos pais é fundamental. Se houver exemplo a maioria das crianças vai ler. Mas a televisão, as consolas de jogos e o horário extremamente preenchido dos miúdos (que não têm tempo para ficar "sem nada para fazer", coisa que tantas vezes me aconteceu - 4 canais e um spectrum não eram suficientes para me ocupar) não os deixam descobrir a leitura.
E as obras obrigatórias na escola não ajudam em nada. Eu até gosto do "Os Maias" mas a maioria dos miúdos não gosta nem está preparado para o ler. E quem gosta do Frei Luís de Sousa ou da Aparição????

Agora uma "provocação" à laia de sugestão: quem já viu o programa Contentor 13? dá na RTP2 mas podem encontrar na RTP Play (onde costumo ver) e é sobre 13 escritores portugueses. Muito bem feito, vejam e depois digam-me se não vale a pena ir ler os livros daqueles escritores...


message 27: by Carla (new)

Carla (whitelady) | 68 comments Mod
Su wrote: "A verdade é que acho que há muito pouca divulgação e conhecimento. (..) Talvez tenhamos que ser nós, leitores lusófonos e fazer esse esforço e dar esse primeiro passo de divulgação e existindo esse interesse o próprio mercado depois se posicione nesse sentido. "

Isso sem dúvida. Após ter ido a algumas reuniões da Roda notei que sou eu que não conheço porque autores, nomeadamente portugueses e que escrevem em português, há aos pontapés e muitos parecem ser bons na arte da escrita. Mas a sua divulgação é de facto muito apagada, valendo-se sobretudo da que deveria ser a melhor arma do marketing, o boca a boca.

Su wrote: "A minha irmã que está a estudar em Inglaterra diz que teve a noção de que há muitas coisas interessantes, seja a nível de monumentos, seja a nível de iniciativas, ou de outra coisa qualquer, que nós também temos, tão bom ou até melhor do que lá, mas eles pegam nelas, expõem-nas na sua melhor forma e divulgam-nas como algo que vale realmente a pena ser conhecido, enquanto por cá é muito mais raro haver esse trabalho de dar a conhecer, tanto aos próprios portugueses como ao exterior."

Pessoalmente, trabalhando num monumento português, a vontade de fazer o mesmo do que se faz lá fora é grande, mas nem sempre (diria mesmo raramente) há as mesmas condições. Há pouco dinheiro, pouco pessoal, há quem ache que acabe por não valer a pena e corte projetos à nascença. E penso que o mesmo se pode aplicar aos livros. Eles chegam cá vindos de mercados enormes onde se destacam pela máquina publicitária que têm por trás, seja por terem dinheiro para investir em publicidade (outdoors, vídeos promocionais com edição profissional, entrevistas) ou pessoas que se esforçam em difundir a mensagem porque têm os contactos certos. Estamos numa fase em que o livro ainda nem foi lançado (por vezes ainda nem está acabado) e já se fala em filmes baseados nele. Como é possível concorrer contra isto?

Mais uma vez, o boca a boca pode contrariar mas acaba por ser difícil ouvir algumas vozes quando outras, em uníssono, quase que pregam autores estrangeiros. Pelo menos é o que tenho vindo a sentir, cada vez mais nos últimos tempos, na blogosfera. E não me parece que seja só um problema da nossa. Talvez esteja a procurar recomendações nos sítios errados, mas parece-me tão difícil encontrar livros lusófonos como francófonos e de outras realidades que não a anglo-saxónica.

Patrícia wrote: "E as obras obrigatórias na escola não ajudam em nada. Eu até gosto do "Os Maias" mas a maioria dos miúdos não gosta nem está preparado para o ler. E quem gosta do Frei Luís de Sousa ou da Aparição????"

O facto de ter de examinar tudo o que o escritor escreveu (o porquê de usar uma palavra ali, escolher levar a história por aquele caminho) foi um completo turn-off para mim quando estava a ler Os Maias e eu até estava a gostar de ler a descrição do Ramalhete! Mas tentar perceber como a sua descrição dá pistas para a história deu cabo de qualquer gozo a mais que pudesse vir a tirar e foi quando me virei para os livrinhos da Europa-América. O Frei Luís de Sousa até nem desgostei mas penso que muito contribuiu o facto de depois termos visto o filme, já a Aparição tenho, cada vez mais, a certeza de que quando o li não era para mim. Demasiado filosófico para mim naquela altura, ainda não ultrapassei o momento em que a personagem mata a galinha e pensa "eu tenho o dom da morte, eu sou Deus!" ou algo do género. É a única coisa que me lembro e, posso estar enganada, foi quando o revirar de olhos literário (coisa que me assalta tanto nos últimos anos :P) começou e por aí me fiquei na leitura. Pergunto-me agora se não será altura de lhe pegar. :/

Não conhecia o programa mas vou tentar investigar. Acho que também há alguns programas de rádio que entrevistam autores portugueses. Lembro-me que tomei conhecimento e ainda subscrevi em podcast um programa que entrevistava a Carla M. Soares mas devia haver algum erro que os links depois nunca eram encontrados.


message 28: by Su (new)

Su | 135 comments Diana wrote: "O que acham do papel da escola nisto tudo? A escola ajuda ou desajuda no incentivo à leitura de autores de língua portuguesa, sejam ele portugueses ou não? E já nem falo no secundário em que temos que ler os autores que fazem parte do nosso canone. Mas nos anos anteriores, acham que falta estímulo à leitura de autores que escrevem em português?"

Sobre isso ainda outro dia encontrei num fórum uma discussão extremamente acesa entre brasileiros, que poderia perfeitamente ser igualmente para o caso de Portugal, em que uns defendiam que se devia promover nas escolas leituras mais mainstream e acessíveis em vez de autores clássicos que potencialmente afugentam os leitores de tenra idade para nunca mais voltarem à leitura, contra quem defendia que se não era a escola a contrariar a tendência de se vender cada vez mais conteúdos de consumo fácil e qualidade duvidosa, prezar a excelência e dar a conhecer grandes autores da sua língua materna aos alunos, quem o faria.

Em linhas gerais, o primeiro argumentava que a maioria das crianças não tinha nenhum exemplo nem hábitos de leitura em casa, já tinham o preconceito de que ler é uma seca, desinteressante e que não é para eles pois nunca haviam sido incentivados, se na escola são confrontados com autores clássicos, difíceis de entrar para um leitor daquela idade, ainda mais se são leitores inexperientes, com temas que não lhes dizem nada, isso só vai confirmar definitivamente essa ideia pré-concebida e perdem-se muitas vezes irreversivelmente potenciais futuros leitores. Eu percebo bem isso e sei que é realmente um grande risco que se corre. Pessoalmente sou filha de professores, sempre fui incentivada e sempre conheci o prazer da leitura desde tenra idade, mesmo sem saber ainda ler a minha mãe lia-me frequentemente histórias e esse contacto com os livros era algo natural para mim. Tive também sorte com a minha professora da primária, que me deu a conhecer a colecção Uma Aventura e emprestou-me o volume preferido do filho dela para eu ver se gostava. Leu-nos também alguns nas aulas, em que para fazermos uma pausa, reservava um pouquinho para ler um capítulo à turma por dia, mais tarde até eramos já nós alternadamente a fazer as leituras em voz alta, por vezes até uns faziam de narradores e outros os diálogos para cada personagem. Lemos também em conjunto vários livros da Sophia de Mello Breyner, o meu preferido o Cavaleiro da Dinamarca que lembro de na altura ter adorado e estarmos todos em suspenso para saber como terminava! Chegou até a criar um "armário biblioteca" da turma, em que cada um trazia pele menos um livro para o tal armário e podíamos levar outro durante uns dias em troca, o que facilitava o acesso a colegas meus que não tinham possibilidade de os comprar, embora tenha ficado um pouco traumatizada porque eu adorava os meus livrinhos e fiquei sem pelo menos dois ou três que levei! No entanto, isto foi iniciativa pessoal dela, as leituras obrigatórias que fiz ao longo dos anos, foram sem excepção bastante mal recebidas por mim, sendo que não me lembro de nenhuma por boas razões (excepto como disse o Cavaleiro da Dinamarca, mas essa não era obrigatória a nível do país) e o pouco que me lembro é sempre por não ter gostado, como aconteceu com O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: Uma História de Amor que achei super triste e me deixou deprimida, sendo que só me lembro mesmo disso porque não faço ideia de qual era a história. Ou seja, o que fica é realmente a sensação negativa, já nem é algo racional sobre o que se leu. É caso para pensar que realmente se eu não tivesse já hábitos de ler outros livros do meu interesse, podia ficar com uma ideia equivocada e de recusa perante a leitura devido a estás más experiencias.

Por outro lado, não posso deixar de concordar também com o outro ponto de vista, pois sou à partida contra entrar em facilitismos porque penso que isso abre bastante maus precedentes. Se se começa a subestimar as pessoas, dar a conhecer e esperar à partida cada vez menos, corre-se o risco de nunca se sair dessa mediocridade, e ficar no mesmo nível dos programas populares de TV que só emburrecem as pessoas. A pessoa que defendia a perspectiva acima, dizia que se devia deixar de impingir autores clássicos e dar às crianças e adolescentes livros que eu não conheço, mas basicamente dava para perceber que estão nas preferências dos jovens brasileiros. Que se eles gostassem de um livro contra as suas expectativas, poderiam voltar à leitura sem ser pela obrigatoriedade e criar hábitos e quem saber até mais tarde, ir procurar esses autores clássicos por iniciativa própria quando tivessem maturidade para isso. O outro contra-argumentava que não é porque o Twilight se vende muito que vão torná-lo obrigatório nas escolas americanas em vez do To Kill a Mockingbird ou do The Catcher in the Rye, que as crianças também não gostam em geral de matemática e não se deixa de ensinar por causa disso. O papel da escola é educar e manter um padrão de qualidade, não cair nas tendências do que está na moda para agradar aos estudantes. O facto de não haver hábitos de leitura é um problema social que é necessário e imperativo combater a esse nível, não criando facilitismos.

Achei a discussão mesmo muito interessante porque compreendo de certa forma as duas posições, acho que ambas possuem bons argumentos e pessoalmente penso que talvez apostar num misto das duas fosse realmente a melhor solução. Não deixar de dar os autores e as leituras que marcam a história da nossa língua, mas promover mais do que isso. Acho que nunca tive essa experiência, mas por exemplo o meu irmão teve um trabalho para português que era ler um livro à sua escolha (não sei se te tinha uma lista mas se tinha era bastante grande e variada) e apresentar à turma uma crítica, se tinha gostado ou não e porquê. Este tipo de iniciativas são muito interessantes, e dão o empurrão necessário para a leitura sem impor um certo estilo, até porque toda a gente tem gostos diferentes e seja o que for que se escolha vai haver sempre quem goste e quem não goste. Isto é, no entanto, extremamente difícil do lado do professor, que como disse a Patrícia com 200 alunos e agora cada vez mais burocracia, exige muito mais tempo e trabalho para fazer essa avaliação quase personalizada das leituras de cada um, que nem sempre é possível. E também concordo com ela que a grande oferta em termos de entretenimento afasta cada vez mais os jovens da leitura, a grande facilidade de arranjar conteúdo audiovisual como séries e filmes on-demand, milhentos canais de televisão, os jogos de consola e de computadores, e o grande número de actividade extracurriculares são sem dúvida dos maiores obstáculos a deixar as crianças de adolescentes conhecer o prazer da leitura!


message 29: by Patrícia (new)

Patrícia (pat_lerporai) | 18 comments Acerca deste tema e de uma notícia que li ontem no facebook, escrevi hoje este post:

Post socialmente incorreto

Anda por aí uma notícia que pretende (e consegue) chocar pais, professores e população em geral. Diz que uns iluminados escolheram o Hobbit em vez do Dom Quixote e que isso é um crime literário.



Ora eu, que tenho mau feitio, dei-me ao trabalho de ir ler a lista de obras escolhidas na tal proposta de programa de Português do ensino básico e devo dizer que fiquei estarrecida. Que H-O-R-R-O-R.

E digo “que horror”, não pelo Dom Quixote ter ido procurar moinhos de vento para outras bandas, nem pela terra média ter invadido Portugal mas sim por aquela lista estar cheia de coisas chatas, maçudas, sem interesse. Contam-se pelos dedos de uma mão as obras de que gosto ali. E garanto-vos que o Hobbit seria a minha primeira escolha (vá, depois das obras da Alice Vieira – amo de paixão – e imediatamente antes do Mia Couto) e das poucas que acredito que vai fazer os miúdos pegarem num livro.

Pelo “amor da santa”, Cervantes para miúdos até ao 9º ano???? É que se 2% dos miúdos quiser ler Cervantes até essa idade fico muito admirada.

Ah, não podemos baixar o nível, é por isso que a literatura está como está, blá, blá, blá, pardais ao ninho

Dom Quixote, até ao 9º ano? A sério?

Os iluminados que “mataram” o Cervantes e “salvaram” o Tolkien merecem todo o meu respeito …. Pena é não terem dado uma volta a sério naquela lista e não haver lá Harry Potters e afins que consigam fazer da leitura a cena maravilhosa e divertida que é.

Se quiserem os links da notícia e da lista de obras vão aqui:
http://ler-por-ai.blogspot.com/2015/0...


message 30: by Diana Marques (new)

Diana Marques | Papéis e Letras (diana_papeiseletras) | 162 comments Mod
Nós a falarmos de autores lusófonos, quando foi anunciado que o Mia Couto está entre os finalistas para o Man Booker Prize deste ano!


message 31: by Su (new)

Su | 135 comments Patrícia wrote: "Agora uma "provocação" à laia de sugestão: quem já viu o programa Contentor 13? dá na RTP2 mas podem encontrar na RTP Play (onde costumo ver) e é sobre 13 escritores portugueses. Muito bem feito, vejam e depois digam-me se não vale a pena ir ler os livros daqueles escritores..."

Já fui ver alguns episódios na RTP Play e realmente o programa é muito interessante :) Obrigada pela sugestão!


message 32: by Patrícia (new)

Patrícia (pat_lerporai) | 18 comments Su wrote: " Já fui ver alguns episódios na RTP Play e realmente o programa é muito interessante :) Obrigada pela sugestão! "

:) Boa, ainda bem que gostaste. Viste o do Zink? Adorei.


message 33: by Su (new)

Su | 135 comments Patrícia wrote: ":) Boa, ainda bem que gostaste. Viste o do Zink? Adorei."

Sim, o homem não tem mesmo papas na língua! "É um escritor! Tem um vocabulário maior que você sua besta!" ;)

Fiquei com muita curiosidade de ler o Anibaleitor e a Instalação do Medo.

Acho que este tópico, além de interessante, foi muito útil para encontrar escritores e livros lusófonos dentro dos nossos gostos como leitores e começar a dar-lhe um lugar de mais destaque nas nossas leituras :) já fiz uma lista para procurar na biblioteca ou entre amigos que me possam emprestar, vamos lá ver se corre bem :)


message 34: by Diana Marques (new)

Diana Marques | Papéis e Letras (diana_papeiseletras) | 162 comments Mod
Su wrote: "Patrícia wrote: ":) Boa, ainda bem que gostaste. Viste o do Zink? Adorei."

Sim, o homem não tem mesmo papas na língua! "É um escritor! Tem um vocabulário maior que você sua besta!" ;)

Fiquei com ..."


Era essa a intenção: despertar-nos para escritores e livros na nossa língua. Ainda bem que gostaste :)


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